São Bernardo à espera de Lula, o filho pródigo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-28
SUMÁRIO: Gijo tem todo o Lula em arquivo. Wanderley lembra como mudou de vida. Sérgio nem se senta na cadeira de presidente. Zelinha vai visitá-lo, já dia 1 de Janeiro.
TEXTO: A casa de Lula não fica em nenhuma das cidades que dão nome ao Brasil. É o último andar de um prédio alto na cintura industrial conhecida como ABC. A de Santo André. B de São Bernardo do Campo. C de São Caetano. Três cidades-cintura no Sul de São Paulo. A maior é São Bernardo, e foi aqui que, em 1966, chegou um jovem operário de 20 anos à procura de emprego. Chamava-se Luis Inácio da Silva, era torneiro mecânico, deixara a pobreza do Nordeste em criança, vivia com a mãe e muitos irmãos em São Paulo, longe do pai alcoólatra. Em São Bernardo, estavam grandes fábricas de montagem de automóveis, Volkswagen, Ford, Scania, Toyota, Mercedes-Benz, Karmann Ghia. Ainda estão, e vamos encontrá-las a almoçar no restaurante do Gijo, onde Lula sempre vai quando cá está. Mas para se ter uma ideia do que é esta paisagem talvez seja melhor partir com o leitor de São Paulo. Primeiro há que apanhar aquela linha de metro que vai até Jabaquara, extremo sul da rede, e sair na última estação. Daí saem os autocarros Diadema-Piraporinha-São Bernardo. A sofisticação do centro de São Paulo dá lugar a barracos de tijolo, graffiti e bancos partidos, rapazes de boné encolhidos na chuva. Uma súbita onda fria abateu-se sobre esta zona do Brasil e está quase um dia de Inverno. Seguem-se uns longuíssimos 45 minutos entre vias rápidas e fábricas, prédios e armazéns. Ao todo, desde a Avenida Paulista, leva quase hora e meia de transportes públicos. Chegando a São Bernardo, o prédio da Prefeitura é uma torre antiquada do outro lado de uma passagem aérea. Num pequeno gabinete lá no alto está o assessor Raimundo Silva. Trabalha sob o olhar de um Lula todo sorridente e de faixa ao peito, na sua fotografia oficial. Raimundo também veio de Pernambuco, como o Presidente e tanta gente aqui, filhos de nordestinos pobres. É um homem exuberante, logo a abrir sites para mostrar aquele documentário de Eduardo Coutinho sobre os peões das greves de 1979-80 no ABC, ou seja, os operários que as fizeram e continuam a ter uma vida operária. Como os irmãos de Lula: "Todos vivem de forma muito humilde. " Os mais conhecidos são "Frei Chico" (assim conhecido por causa da careca em forma de frade), que mora em São Caetano, e Vavá, que mora em São Bernardo. Raimundo telefona-lhe, para apresentar a repórter portuguesa, mas Vavá declina, cansado de jornalistas. Neste exacto momento, Lula está reunido com todos os seus ministros e ex-ministros, para fazer o balanço de oito anos de Governo. É por isso que o prefeito Luís Marinho, chefe de Raimundo, hoje está ausente de São Bernardo: foi chamado a Brasília, como ex-ministro do Trabalho. À mesa com GijoO cartão diz "Gijo's - Chuleta Paulista desde 1984". É um daqueles restaurantes que à hora de almoço se enchem de trabalhadores, num bruá geral de comezaina e gargalhada. Gijo, o genro, a filha e várias empregadas correm de uma mesa para a outra com potezinhos de feijão a ferver, e travessas de arroz, carne, farofa, salada. A mulher de Gijo controla as operações na cozinha. Um negócio de família, 150 refeições diárias. As paredes estão cheias de fotografias a preto e branco, incluindo várias de Lula com Gijo, e uma foto oficial de Lula dedicada: "Para o querido Gijo, um abraço. "Gijo é um homem pequenino, de pêra, sorridente e eléctrico. "Aquele pessoal que saiu era da Toyota e da Mercedes-Benz, e aqueles são da termomecânica", aponta ele, quando as coisas acalmam e se pode sentar enfim à mesa. Mas logo vai buscar uma rapariga à mesa do lado: "Esta é a Renata, assessora da Scania, porque a primeira greve coordenada por ele foi lá, em 1979!" Claro que "ele" é Lula. A encantadora Renata deixa o seu cartão e volta à chuleta. Gijo respira fundo, ganha fôlego. "Aqui é um pólo de encontro de metalúrgicos. O dono deste prédio é de Portugal, de Coimbra, eu alugo há 27 anos. "
REFERÊNCIAS: