Maior empregador de calçado fecha portas em definitivo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2011-01-06
SUMÁRIO: O fim anunciado da multinacional alemã de calçado Rohde, em Santa Maria da Feira, foi ontem confirmado na segunda assembleia de credores.
TEXTO: Lotação esgotada no pavilhão desportivo da Lavandeira com 921 operários, mulheres na sua grande maioria. A liquidação da maior empregadora do sector do calçado do país acabou por ser aprovada por maioria: 86, 5 por cento dos trabalhadores da Rohde votaram contra o plano de viabilização proposto pela empresa de calçado. A manutenção de 150 postos de trabalho, prevista no plano de reestruturação, foi rejeitada. A empresa que chegou a empregar perto de três mil trabalhadores e laborou durante 35 anos fecha definitivamente as portas. Não houve lágrimas, mas antes o ponto final numa angústia de meses. Conceição Carvalho pensou bem antes de votar contra o plano da Rohde. "Não era uma proposta que levasse a empresa para a frente, nem sequer dizia quem seria o patrão. Quanto mais tempo andássemos com esta história, pior para nós", justifica. O previsível encerramento confirmou-se ontem pelas 12h30, depois de mais de duas horas de votação. Conceição Carvalho ficou aliviada e, ao mesmo tempo, triste. Tinha 14 anos quando entrou na fábrica, sai ao fim de 25 anos de trabalho. "Foi o único emprego que conheci, gostava de trabalhar, daquele ambiente". Os últimos meses foram, no entanto, difíceis. "Nunca pensei que a Rohde chegasse a este ponto. O que estragou tudo foi a empresa começar a trabalhar para outros países, onde a mão-de-obra é mais barata". Agora é hora de levantar a cabeça e concluir o 9. º ano de escolaridade. "Temos de batalhar", conclui. A história é longa. A Rohde registou várias suspensões temporárias do horário de trabalho, despedimentos colectivos, manifestações. A produção foi praticamente suspensa em Setembro do ano passado, seguiu-se um processo de insolvência e a suspensão dos contratos de trabalho em Dezembro de 2009. Na primeira assembleia de credores, os trabalhadores votaram a favor da continuidade da empresa - o plano de viabilização previa a manutenção de 400 a 450 dos 984 postos de trabalho. Mas esse plano sofreu alterações, com o número de empregos a manter a descer dos 450 para os 150, o que gerou descontentamento entre os trabalhadores. "Os trabalhadores continuarão numa situação de desemprego. A única diferença é que a Rohde acabou e os operários terão de procurar outras alternativas, outras soluções", refere Fernanda Moreira, coordenadora do Sindicato do Calçado. A dirigente admite, no entanto, que o sector "não tem capacidade de absorver tanta gente". Seja como for, a ideia de criar uma nova empresa continua em cima da mesa, depois da total liquidação da Rohde. "É uma questão importante, mas tem de avançar num outro contexto", defende Fernanda Moreira.
REFERÊNCIAS: