Homicídio de Carlos Castro: mutilação dos olhos é um tipo de agressão bastante raro
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.39
DATA: 2011-01-14
SUMÁRIO: A crer nos relatos de tablóides norte-americanos, o corpo do cronista social Carlos Castro foi agredido, durante mais de uma hora, com um saca-rolhas e os órgãos genitais e globos oculares foram mutilados. Que leitura pode fazer-se destas agressões? A psicóloga forense Francisca Rebocho, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, interpreta o caso para o PÚBLICO com a informação disponível: diz que a mutilação dos olhos é bastante mais rara do que a dos órgãos genitais. Em qualquer das situações, é um homicídio com motivação sexual.
TEXTO: Na literatura científica, a mutilação dos olhos quase não é abordada. Francisca Rebocho, de 30 anos, especialista em crimes sexuais, doutorada na Universidade do Minho, deparou-se só com um único estudo publicado em 1999, na revista Journal of the American Academy of Psychiatry and Law. E esse artigo baseia-se só em dez casos na Rússia e nos Estados Unidos. "É um fenómeno extremamente raro. Deve haver outros dados, mas não estão tratados. Os dez casos são todo o universo que há, não são uma amostra. Isto diz-nos da raridade deste comportamento e do seu valor interpretativo", realça a psicóloga, especializada em perfis psicológicos e geográficos. Nos dez casos (cinco dos agressores eram psicopatas, um tinha uma deficiência mental e os restantes quatro eram psicóticos), a equipa do russo Alexander Bukhanovsky, que incluía cientistas americanos, estudou a patologia mental dos agressores, a idade, o género, a motivação para o crime ou o instrumento usado: "Os resultados indicam que a mutilação dos globos oculares, extremamente rara, é mais frequente em ofensores psicopatas ou psicóticos, do sexo masculino, com idades entre os 20 e os 30 anos". "Este tipo de mutilação surge na quase totalidade dos casos no contexto de um homicídio sexual, com uma motivação associada à raiva, sendo as armas de eleição instrumentos afiados. Em cerca de metade dos casos, ocorreu mutilação de outras áreas corporais", diz. No caso do homicídio de Carlos Castro, de 65 anos, a 7 de Janeiro, os tablóides New York Post e New York Daily News adiantam que o modelo Renato Seabra, de 21 anos, com quem o cronista social passava férias em Nova Iorque, confessou a autoria do crime. Avançam que, antes de o atacar, Renato Seabra ter-lhe-á dito: "Já não sou homossexual!" À polícia, justificou as mutilações dizendo que queria livrar-se "dos demónios, do vírus". Ambos partilhavam um quarto num hotel em Times Square. Os amigos de Carlos Castro dizem que eles tinham uma relação sexual; a família de Renato Seabra nega que ele seja homossexual. No domingo, a polícia de Nova Iorque acusou-o de homicídio em segundo grau, uma vez que o crime não teria sido premeditado. O Gabinete de Medicina Legal de Nova Iorque só confirmou que a morte se deveu a "lesões por impacto brusco na cabeça" e "compressão na garganta". A família, que já reconheceu o corpo, confirmou a mutilação dos olhos. Os demónios e a psicoseA propósito dos demónios, a psicóloga frisa as conclusões do estudo de Bukhanovsky para os agressores psicóticos, ou seja, os que tinham uma doença mental que os desligou da realidade e os encerrou num mundo de delírios e fantasias. "Descreviam os olhos das vítimas como representações de demónios ou do mal, verificando-se a mutilação de outras partes do corpo. Como no discurso de Renato, os olhos são representações do demónio. Eventualmente, terá sido por isso que fez este tipo de mutilação. "Como é que a psicóloga vê então este homicídio? "Numa análise comportamental, este crime sugere uma clara motivação sexual e afectiva, com grande libertação de raiva. A duração sugere a libertação de uma raiva acumulada, dado que a maioria dos crimes motivados pela raiva é caracterizada pela breve duração", responde. "O tipo de mutilação envolvida, associado à duração, a escolha de uma arma de oportunidade e a opção pelo estrangulamento como modo de matar são indicadores do que o FBI descreve como um ofensor desorganizado - na maioria dos casos, são sujeitos portadores de patologia mental severa do espectro psicótico. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte homicídio social doença sexo género estudo sexual corpo homossexual