Há cada vez mais imigrantes a desistir de Portugal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 16 Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.5
DATA: 2011-01-16
SUMÁRIO: Nos últimos três anos, quadriplicaram os pedidos de imigrantes residentes em Portugal para regressar aos seus países de origem, referem dados do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) de Lisboa. Em primeiro lugar, estão os brasileiros seguidos, a grande distância, de cidadãos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP’s).
TEXTO: O desemprego e a dificuldade em obter vínculos sociais estáveis, estão entre os principais motivos que levam os imigrantes a desistir de Portugal, explica ao PÚBLICO, a responsável do Gabinete de Apoio Social do CNAI, Lígia Almeida. O regresso é preparado no âmbito do Programa de Retorno Voluntário, estabelecido no âmbito da cooperação entre o Governo Português e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) Missão em Portugal. É dirigido aos estrangeiros que não pertençam a nenhum país da União Europeia, que se encontrem em situação irregular e que tenham sido notificados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para abandonar voluntariamente o território. Aplica-se também a outros casos de dificuldades de integração e de estabilidade social. O objectivo do programa consiste em organizar, de forma digna e humana, o retorno voluntário de cidadãos estrangeiros aos seus países de origem ou a Estados terceiros de acolhimento disponíveis para os receber. Desde 1997 até agora, este Programa de Retorno Voluntário já apoiou cerca de 1. 700 pessoas, que regressaram a 40 diferentes países de origem. Segundo os dados fornecidos ao PÚBLICO, o número de pedidos de regresso aumentou de 64, em 2008, para 190, em 2009, mais de 70 por cento. Até Outubro do ano passado, já tinham sido apresentados 210 pedidos de regresso de imigrantes, o que se traduz num aumento de quase 300 por cento. “Cada vez há mais casos de imigrantes que chegam à conclusão de que não compensa estar em Portugal”, diz Lígia Almeida. Segundo o relatório “Imigração, Fronteiras e Asilo”, do SEF, aumentaram igualmente, no ano passado, os processos de expulsão de imigrantes ilegais, totalizando os 2476, o que traduz um aumento de 26 por cento em comparação com 2008. Portugal tem cerca de meio milhão de imigrantes. ”Não aconteceu nada”Damião Oliveira, de 45 anos, brasileiro, é um dos imigrantes que se inscreveu no Programa de Retorno Voluntário para regressar ao seu país, cinco anos depois de ter chegado a Portugal. “Infelizmente não aconteceu nada do que tinha planeado”, diz. Natural de Vitória (Espírito Santo), no Brasil, agricultor, pai de três filhas, Damião Oliveira chegou a Portugal com 600 dólares. No início, conseguiu trabalho nas obras mas foi dispensado e não voltou a conseguir emprego. O dinheiro acabou. Tem passado muitas dificuldades, passou fome, chegou a ficar numa situação de sem abrigo. “Estou a levar muito prejuízo aqui”, lamenta. ”Gosto muito de Portugal, mas já não tem mais jeito para mim de ficar aqui. ” Resignou-se. “Vou voltar à estaca zero. ”Também Páscoa Wagner Neto, de 43 anos, de nacionalidade santomense, está prestes a regressar ao seu país. Chegou a Lisboa em 2007 para fazer o mestrado em Relações Internacionais. E como tem visto de estudante, não conseguiu trabalho. O seu processo está praticamente concluído. “Gosto de Portugal e se conseguisse autorização para trabalhar, ficaria cá mais tempo, mas regressaria sempre a S. Tomé”, diz Páscoa. A importância dos CNAINa sala de espera do Centro de Apoio ao Imigrante (CNAI) localizado nos Anjos, em Lisboa, Maria da Luz, de 25 anos, aguarda. É natural do Tarrafal, Cabo Verde, e uma das centenas de estrangeiros esperando que os chamem. Chegou a Portugal há três anos para estudar gestão. Conseguiu arranjar emprego mas só temporariamente. Agora, precisa de renovar a autorização de residência para conseguir trabalhar. Foi isso que a levou ao centro. Os Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante foram criados em 2004 para dar resposta às dificuldades sentidas pelos estrangeiros no processo de integração em Portugal. O dos Anjos reúne vários serviços de apoio, entre os quais, os de apoio jurídico, do SEF e da Segurança Social, bem como o do reagrupamento familiar.
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF