Zahi Hawass, o homem que sonhou devolver a arqueologia do Egipto aos egípcios
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-01-20
SUMÁRIO: Zahi Hawass decidiu que poderia ser tudo: um académico conceituado e um aventureiro em busca de arcas perdidas. Tornou-se uma das figuras mais polémicas da egiptologia, mas isso pouco o afecta. É ele quem tem o queijo e a faca na mão, é ele que decide quem escava e onde escava. O chefe máximo das antiguidades do Egipto só ainda não tem um achado digno de Tut.
TEXTO: Onde está o seu chapéu? Zahi Hawass nem dá resposta. Só uma pequena risada e aquele olhar de "vamos lá ao que interessa". Já nos tinham avisado desta secura, que se estranha no homem que tem o emprego mais fascinante do mundo (é subjectivo, claro). É o director do Conselho Supremo de Antiguidades do Egipto, tem o poder de decisão e de descoberta sobre o extenso campo arqueológico que é aquele país. Haveremos de lhe arrancar alguma paixão, alguma excitação. Para já, falamos de determinação, que é o que a personagem de 63 anos mostra com os lábios apertados e 15 minutos para a conversa num hotel de Lisboa. Determinações e batalhas, Hawass tem tantas. A primeira foi (e ainda é) nacionalizar a egiptologia, depois de 200 anos em que pertenceu aos outros. Por isso se diz que acredita ser essencial ao Egipto, que tem ego a mais. Há outras críticas: que escava demasiadas vezes em demasiados lugares, que exagera nas descobertas, que fica com créditos que não lhe deveriam pertencer, que quer fazer depressa o que precisava de décadas, que não quer acabar a carreira sem um achado comparável ao do túmulo quase intacto de Tutankhamon, que quer ser tudo ao mesmo tempo, um académico e uma star (desde Os Salteadores da Arca Perdida que, no terreno, adoptou o chapéu à Indiana Jones). Na semana passada abriu mais uma frente de batalha: obrigar a Câmara Municipal de Nova Iorque a restaurar o degradadíssimo obelisco de Tutmés III, que com a legenda equívoca de "Agulha de Cleópatra" está espetado no Central Park desde 1880. Se pudesse tê-lo de volta no Egipto, Hawass ficaria contente, mas não é uma prioridade, como outras antiguidades espalhadas pelo mundo que fazem parte da sua "wish list". A campanha para a devolução dos tesouros é, talvez, a parte mais mediática do trabalho deste egiptólogo que em Lisboa recebeu um doutoramento honoris causa (a cerimónia foi ontem à tarde na Universidade Nova) e dá hoje uma conferência sobre Novas Descobertas (às 18h, na reitoria da Nova). E, neste campo das devoluções, Hawass tem novidades: "Na próxima semana vou pedir, oficialmente, [a devolução] do busto de Nefertiti. " Na mira de Hawass estão cinco mil peças, seis delas únicas pela importância histórica e pela beleza artística. Além do busto de Nefertiti, exposto em Berlim e que coube aos alemães quando a Alemanha e o Egipto dividiram o espólio da escavação em que a peça foi encontrada, há mais cinco na "lista" de Hawass: a Pedra de Roseta, que permitiu a decifração dos hieróglifos e que se encontra em Londres; a máscara de Kanefer, que está em St. Louis, nos Estados Unidos; o Zodíaco de Dendera, um baixo-relevo exposto no Louvre (Paris) que poderá ser a peça fundadora do sistema astrológico; a estátua do arquitecto da grande pirâmide e a do arquitecto da segunda pirâmide, ambas nos EUA; a estátua/busto de Ramsés II, a morar em Londres. No século XIX e no início do XX, quando as peças saíram, o Egipto não tinha arqueologia. Era outro tempo. . . Que sentido faz, hoje, esta batalha pela devolução? Sim, eram outros tempos. A arqueologia era uma caça ao tesouro e o Egipto não tinha qualquer estrutura para procurar, guardar e restaurar peças. Mas vejamos o caso do busto de Nefertiti. Mesmo em 1912, a saída do busto já foi ilegal. A peça foi registada [na lista do espólio da escavação] como sendo uma princesa. Ora, tratando-se de um busto em calcário, teria que ser de uma rainha, porque as rainhas eram retratadas nesta pedra. Se a tivessem registado devidamente sabiam que não poderiam levá-la. Por alguma razão Nefertiti esteve dez anos escondida na Alemanha. São estes dados que fundamentam a nossa reivindicação. O Egipto demorou muito tempo a olhar para as suas antiguidades. As peças foram-se degradando. Algumas delas, como a Pedra de Roseta, pôde ficar muito bem preservada [em Londres]. A Pedra de Roseta também foi ilegalmente levada do país.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA