“Nobre, vou estar atento à tua cena, ah?”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2011-01-21
SUMÁRIO: Corpo de cerveja na mão, numas das ruas do Bairro Alto, em Lisboa, o adiantado da hora faz temer pelo estado etílico do adolescente, mas Fernando Nobre arrisca a abordagem: “Tens um copo na mão e também tens opinião: vota”.
TEXTO: Calças de gança, camisola de capuz, o rapaz quer saber de que partido é Fernando Nobre e, quando este lhe responde que é independente, que nunca foi político e que faz campanha em nome “da cidadania pura”, mostra-se interessado: “Ei, Nobre, vou estar atento à tua cena ah?”. O contacto podia ter terminado ali não fosse, no meio dos encontrões dos apoiantes, Nobre ter-lhe derrubado o copo involuntariamente. Quando se oferece para lhe pagar outro, o adolescente trava-lhe o gesto: “Pague-me mas é a fazer coisas pelo país”. Não fugiu muito disto o tom das conversas que Fernando Nobre manteve com os sub-18 que andavam ontem à noite pelo Bairro Alto. A iniciativa começou pelas 23h50, no Largo de Camões, onde algumas dezenas de jovens aguardavam o candidato que chegou, cachecol ao pescoço, braço sobre os ombros da mulher. “Meus amigos, hoje a noite é vossa. Mostrem-me o caminho”, desafiou, dispondo-se a ser guiado pelas ruelas do bairro com bares porta sim, porta sim. À frente, o costumeiro megafone e os slogans “Dia 23, Portugal muda de vez” e “Nobre, amigo, o bairro está contigo. “Isso mesmo”, concordava um transeunte, “abaixo o PS”. Num dos bares, copo de cerveja na mão, o candidato vai pedindo que “votem em consciência”. Entre brindes, Nobre exercita o francês junto de uns estrangeiros. “Dimanche nous aurons des élections et je suis un candidat à la présidence pour la première fois dans ma vie", apresenta-se. “Bonne chance”, surpreende-se o estrangeiro. Adiante, na Rua da Barroca, alguém consegue pôr Nobre a saltar ("e salta, Nobre, salta Nobre, olé") e, logo depois, um grupo de raparigas reclama a presença de psicólogos nas escolas. "Vamos ver o que conseguimos fazer", responde o candidato, que nunca se cansa de repetir : "É esta juventude que vai decidir o futuro do país". Quando o ouve, um rapaz incentiva : "Se for por mim, já está eleito". Dez por cento já é vitóriaNo Bairro Alto, como em quase todas as iniciativas de campanha, o fundador da AMI consegue escapar às manifestações de aversão aos partidos que costumam pontuar este género de encenações de aproximação aos cidadãos. Os que se aproximam do candidato é quase invariavelmente para lhe demonstrar apoio, o que lhe deixa bastante espaço para repisar as propostas, como a de criação de empresas a custo zero e a introdução da disciplina de cidadania nas escolas, da pré-primária ao superior. "Eu quero que os jovens se sintam parte da solução e não do problema". 0h32, espécie de mini-conferência improvisada na rua. “Dia 23, o voto anónimo deste país, dos abstencionistas, da juventude que não acreditava, dos que não votavam há 15 ou 20 anos irão surpreender”, proclama. E depois, admite pela primeira vez um cenário de derrota nas urnas, mas para enfatizar o lado positivo: “Um cidadão independente como eu, sem nenhuma máquina partidária, se chegar aos 10 por cento, já não é uma enorme vitória? Em 100 anos de República nunca existiu uma candidatura como esta e o que é isto senão o despertar da cidadania portuhguesa?”. 0h50, de regresso ao Largo de Camões, Nobre pega no megafone e sobe para o degrau do monumento central. "Já leram os Lusíadas? Sabem qual é a palavra que aparece no final ? A inveja". E volta a insitir que já ganhou. "Seja qual for o resultado, nós já fizemos História em Portugal".
REFERÊNCIAS: