Tunísia: "Era um movimento realmente espontâneo e essa foi a sua força"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.175
DATA: 2011-01-22
SUMÁRIO: Antes, pai e filha não se entendiam. "Não comunicávamos. Ela comunica pelo computador e eu não percebia. Não conseguia compreender que viesse a casa e passasse 20 horas em frente ao computador e quatro a dormir. A ditadura também abriu um fosso entre gerações. Agora reencontrámo-nos."
TEXTO: A filha tem nome de guerra: TunisianGirl, nome de blogue, de conta do Twitter, de página no Facebook. De tudo o que o pai demorou a perceber. Lina Ben Mhenni, 27 anos, licenciada em Linguística e professora assistente na Universidade de Tunes, é uma blogger que a censura transformou em activista. "Comecei a bloggar em 2006. Escrevia sobre poesia, sobre livros que lia, assuntos gerais. Mas em 2008 fui para os Estados Unidos, com uma bolsa Fulbright, e duas semanas depois de lá chegar vi que o meu blogue e a página do Facebook tinham sido censurados. Então comecei a discutir com outros bloggers. Percebi que os servidores de Internet estavam nas mãos da família no poder. Uma noite sentei-me indignada e escrevi um artigo. No dia seguinte recebi uma mensagem da Global Voices, uma comunidade mundial de bloggers, a pedirem-me para colaborar com eles. "Assim nascia uma activista com códigos de jornalista. Ao contrário de outros bloggers tunisinos, Lina nunca foi presa. E ao contrário de quase todos os outros, assinou sempre com o seu nome. "É uma questão de credibilidade. Quando dás a cara, as pessoas acreditam, vêem que assumes o que dizes. E tantos bloggers com pseudónimos foram presos", explica. O preço a pagar foram as visitas da polícia à casa da família, em Tunes. "De cada vez levavam-me o computador, o disco externo, as máquinas fotográficas", diz Lina. "Aproveitavam e levaram as minhas moedas de colecção e as jóias de família da minha mulher, algumas com 150 anos", acrescenta o pai, Sadok, 58 anos, funcionário na administração pública. "Ela diz que é professora, mas na verdade nunca teve um contrato oficial por causa dos boletins que a polícia enviava para a universidade. E o ordenado sou eu que pago, não o Ministério da Educação. "Em Maio do ano passado, Lina assinou com outros bloggers o pedido para a realização de um protesto contra a censura. "Nós mobilizámos muita gente. O Governo mobilizou a polícia. Não conseguimos fazer uma concentração, como queríamos, mas as pessoas apareceram em pequenos grupos", conta. Os bloggers políticos não eram assim tantos. "Mas a censura tornou-se arbitrária e apareceram pessoas a dizer-me que escreviam sobre flores e tinham as suas páginas bloqueadas. " Sem ideologiaO pai também esteve nessa manifestação, curioso, mas ainda sem perceber o impacto do que a filha fazia. "Eu vi jovens burgueses sem ideologia, jovens que comiam iogurtes. A minha geração não comia iogurtes. Nós vivemos o Maio de 68 e a revolução cultural chinesa. Eram essas as minhas referências", diz Sadok, que na juventude foi activista político e passou oito anos preso por isso.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filha concentração educação mulher comunidade