Reportagem: "Somos um país tranquilo. Não somos o país de Laurent Gbagbo"
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DATA: 2011-02-05
SUMÁRIO: O histórico PAICV pede uma inédita terceira maioria absoluta. O MpD, que governou nos anos 1990, tenta regressar ao poder
TEXTO: Os ecos da campanha ainda se ouvem em Cabo Verde, que amanhã, pela quinta vez em 20 anos, elege democraticamente o seu Parlamento. O calor da luta eleitoral e mesmo as trocas de acusações mais duras, que passaram por denúncias recíprocas de compra de votos, não parecem beliscar o modo sereno como as eleições estão a ser encaradas. "Somos um país tranquilo. Não há essas coisas de violência. Nós não somos como o país de Laurent Gbagbo", respondeu ontem José António, um motorista cabo-verdiano da Cidade da Praia, quando questionado sobre o dia seguinte às eleições. Gbagbo, Presidente cessante da Costa Marfim, recusa-se a deixar o poder, apesar de ter perdido as eleições de Novembro do ano passado. Camilo da Graça, diplomata e professor universitário cabo-verdiano de Relações Internacionais, confirma que os cidadãos "recusam a comparação com alguns exemplos tristes de países vizinhos nessa matéria de democracia" e têm orgulho na boa imagem externa. A tranquilidade com que as eleições estão a ser encaradas é também o resultado da experiência de duas décadas de democracia com alternância pacífica, factor que contribuiu em muito para construir a imagem de serenidade e progresso do país, independentemente da orientação política do Governo. A boa governação é outro traço associado a este país muito dependente do exterior - quer das remessas de emigrantes quer da ajuda pública ao desenvolvimento, que nos últimos anos perdeu peso em favor do investimento directo estrangeiro, como assinala Vítor Reis, economista português que se doutorou com uma tese sobre estratégias de desenvolvimento em Cabo Verde. "À espera do melhor"Em vésperas de eleições, os cabo-verdianos parecem ter interiorizado a ideia de que a sua vida continuará sem sobressaltos, que não haverá grandes rupturas e que o melhor está para vir. "Ou fica José Maria Neves ou ganha Carlos Veiga, esperamos sempre o melhor", confirma José António. Neves é o actual primeiro-ministro e líder do PAICV, o "PAI", antigo partido único, de esquerda, e procura um inédito terceiro mandato consecutivo, após as vitórias de 2001 e 2006. Tem agora 41 deputados. Veiga será o chefe do Governo se o MpD, partido da família política do PSD português, conseguir regressar ao poder que deteve na década de 1990, após a adopção do multipartidarismo. São os únicos que concorrem em todos os 13 círculos eleitorais. Têm agora 29 deputados. Quando ontem chegaram à Cidade da Praia, vindos da ilha de São Vicente, a segunda com maior peso eleitoral, os dois líderes adoptaram um discurso optimista nas declarações que fizeram ao PÚBLICO. "Espero reforçar a maioria", disse José Maria Neves. "Fui recebido com um extraordinário carinho em todas as ilhas", referiu o presidente do "PAI", que destacou a "boa adesão" à campanha e pediu aos eleitores que "votem sobretudo em Cabo Verde, porque Cabo Verde não pode parar, não pode fazer marcha atrás". Um par de horas antes Carlos Veiga manifestara-se "animadíssimo", com o modo como correram as duas semanas de campanha, e esperançado na boa adesão dos eleitores. "Vamos ganhar. Não tenho dúvidas de que vamos ganhar, afirmou. "Os cabo-verdianos podem estar tranquilos. A alternância de poder é boa e não vai haver problemas nenhuns. Vamos criar condições para que a vida das pessoas melhore. " "Muda" ou "Manti""A resposta que amanhã será pedida aos cabo-verdianos é entre o "Mesti Muda" - slogan em crioulo que defende a necessidade de mudar - lançado pelo MpD; e o "Mesti Manti" - algo como: É preciso continuar - com que respondeu o PAICV, invocando a obra feita.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD