Dentro da cabeça de Carlos Silvino
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-05
SUMÁRIO: Os peritos que em 2008 analisaram o ex-motorista da Casa Pia deram logo com a sua dificuldade em lidar com sentimentos e emoções. Falam numa certa "aridez" que o impede de desenvolver relações íntimas. E de uma depressão que podia levar a pensamentos bizarros.
TEXTO: Não admite que lhe chamem pedófilo. Nem homossexual. Sequer bissexual. Carlos Silvino diz que gosta de mulheres. Crescidas. Aos peritos que traçaram o seu perfil, desdobrou-se em informações sobre uma ex-namorada. "Era só à quinta-feira que fazia amor com ela, porque a religião dela não permitia. [. . . ] Para me satisfazer, ia duas ou três vezes a Monsanto, à prostituição. "Chamava-se Isaura. E o então motorista da Casa Pia não compreendia aquela restrição semanal que ela lhe impunha: "Só soube que ela era da religião Maná quando ela me levantou dinheiro da conta. "Só este namoro seria consistente no discurso sobre a heterossexualidade de Silvino. No resto, hesitava. "Com frequência", dava "informações diferentes em momentos diferentes. " Os peritos ficaram com a sensação que procurava uma resposta a cada pergunta, a avaliar pelo relatório que escreveram. Não era assim quando falava na sua "colaboração" com os rapazes que terão prestado serviços sexuais fora da Casa Pia - uma "colaboração" que acabou por negar numa entrevista publicada no dia 26 na Focus. Não se contradizia ao referir "quando, onde, como, para junto de quem" os terá transportado. Reproduzia "quase o mesmo em momentos diferentes". E tendia a ser "minucioso". Distendia-se "amplo, escorreito, seguro de si e das suas afirmações". Com o sexo feminino era diferente. Com o sexo feminino era de uma incoerência que os peritos classificam de "exuberante". Foi ouvido em 2008 por peritos da Unidade Funcional de Psiquiatria e Psicologia Forense do Hospital Magalhães Lemos, na fronteira do Porto com Matosinhos, a 2 e a 15 de Abril, a 7 e a 12 de Maio, a 2 de Junho - a pedido das Varas Criminais de Lisboa, a que cabia avaliar o depoimento do acusado de 634 crimes. Numa primeira conversa, revelou ter tido relações sexuais com uma rapariga pela primeira vez em Braga. Namorara "um ano e tal" com ela. Teria passado "dois ou três fins-de-semana" em casa dela. A distância falara mais alto. E ela trocara-o por "um rapaz da aldeia". Nesse mesmo dia, contou 24 namoradas. E falou na tal da Igreja Maná com quem estivera três anos. Noutra sessão, assegurou ter vivido com 12 mulheres. Disse o nome delas todas. Enumerou 12 portuguesas e uma francesa, que não entraria na estatística por ter sido um amor de férias. Ainda naquele dia, corrigiu o tiro. Namorara com 13 e vivera "com duas ou três". Numa terceira ocasião, declarou ter tido relações sexuais pela primeira vez com uma rapariga em Viseu. Afinal, tivera 12 namoradas. E só morara com uma por volta dos seus 42-44 anos, a tal da Igreja Maná, porque "queria avançar, ter família, ter filhos". Ela nunca quis. Talvez o homem de 53 anos confunda homossexualidade com pedofilia. Ainda agora, com o jornalista da Focus, falou como se acreditasse que praticar sexo com mulheres o ilibasse de abusar de crianças: "Disse em tribunal e digo outra vez. Não sou pedófilo, não sou homossexual, nem predador sexual. Sou heterossexual e algumas raparigas com quem tive relações foram ao tribunal para confirmar isso, mas nem sequer foram ouvidas. Não sei porquê. "Violado na infânciaQuem é o homem que a Polícia Judiciária deteve a 25 de Novembro de 2002, sob suspeita de servir uma rede de prostituição infanto-juvenil, e que o país conheceu de cabelo rente e blusão vermelho? Há alguma resposta precisa, após os mais de 20 testes de avaliação psicológica a que foi sujeito? Silvino identificou o seu advogado, a mãe adoptiva, os ex-colegas da Casa Pia, o psiquiatra, o médico de família e três amigos como as pessoas que mais lhe davam apoio. E os peritos perceberam que lhe custava estabelecer "relações personalizadas, íntimas, de conhecimento aprofundado".
REFERÊNCIAS:
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