David Cameron denuncia fracasso do multiculturalismo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.31
DATA: 2011-02-05
SUMÁRIO: O primeiro-ministro britânico, David Cameron, atacou três décadas de multiculturalismo no Reino Unido, defendendo que as políticas de integração têm alimentado o extremismo. As associações de muçulmanos já se manifestaram desiludidas com um discurso que, dizem, estigmatiza a comunidade e alimenta “a histeria e a paranóia”.
TEXTO: Cameron defendeu que é preciso uma identidade nacional mais forte e uma política de “liberalismo musculado” para reforçar os valores da igualdade e da lei junto de todos os elementos da sociedade. O tema da integração está no centro das preocupações no Reino Unido desde o atentado que fez 56 mortos nos transportes públicos de Londres em Julho de 2005, mas o líder dos conservadores ainda não tinha feito nenhum grande discurso sobre o tema desde que chegou à chefia do Governo, em Maio do ano passado. Na Conferência de Munique sobre segurança, Cameron criticou o que chama “multiculturalismo de Estado”, sustentando que organizações que pouco fazem para combater o extremismo devem deixar de receber dinheiros públicos. “Vamos avaliar correctamente estas organizações: Acreditam nos direitos universais – incluindo para as mulheres e membros de outras crenças? Acreditam na igualdade perante a lei? Acreditam na democracia e no direito do povo a eleger o seu governo? Encorajam a integração ou o separatismo?”, questionou. Todos os imigrantes devem aprender a falar inglês e as escolas têm de ensinar “a cultura comum do país”, defendeu ainda o primeiro-ministro. “Francamente, precisamos de muito menos da tolerância passiva dos últimos anos e de um liberalismo musculado muito mais activo”, disse. Para Cameron, a doutrina dominante encorajou as diferentes culturas a viverem separadamente e isso conduziu, por isso, “ao fracasso de alguns em confrontarem os horrores do casamento forçado”. Ao tolerar que “as comunidades se comportassem de formas que contrariam os valores” do país, o Estado contribuiu para “deixar alguns jovens muçulmanos a sentirem-se sem raízes”. E muitas vezes, essa “busca por um sentimento de pertença pode conduzi-los a uma ideologia extremismo”, afirma. Segundo o chefe do Governo, os britânicos falharam ao não “dar [aos jovens muçulmanos] uma visão da sociedade de que eles queiram fazer parte”. Em Londres, a generalidade das organizações que representam os muçulmanos britânicos reagiram mal à intervenção de Cameron. “Uma vez mais parece apenas que a comunidade muçulmana é posta no centro das atenções, sendo tratada como parte do problema e não da solução”, disse à Rádio 4 o secretário-adjunto do Muslim Council of Britain, Faisal Hanjra, considerando ainda que “em termos de abordagem de combate ao terrorismo”, o discurso “não parece trazer nada de particularmente novo”. Também a associação de jovens The Ramadhan Foundation considera que ao nomear especificamente os muçulmanos, Cameron está a alimentar a “histeria e a paranóia”. “Os muçulmanos britânicos odeiam o terrorismo e o extremismo e temos trabalhado muito para erradicar este mal do nosso país. Mas sugerir que não partilhamos os valores da tolerância, do respeito e da liberdade é profundamente ofensivo e incorrecto”, disse o líder deste grupo, Mohammed Shafiq, citado pela emissora BBC. Foi o seu primeiro discurso sobre as causas do terrorismo desde que está à frente do Governo e aconteceu na Conferência de Munique. Por coincidência, Cameron estava sentado ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, que em Novembro também que a Alemanha não tem feito o suficiente para integrar os seus imigrantes. “Desde há anos, há décadas, que a abordagem tem sido que não é preciso promover a integração. Isso provou estar errado”, afirmou Merkel.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei cultura comunidade igualdade mulheres casamento