Cabo Verde dá mais um passo no enraizamento da democracia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-06
SUMÁRIO: Só hoje à noite se sabe quem vence as eleições, mas, se a votação correr sem sobressaltos, como se espera, já há vencedores: a democracia cabo-verdiana, mas também as dezenas de milhares de pessoas que sexta-feira à noite saíram à rua para ouvirem os principais líderes partidários e participarem nos animados comícios-festa que encerraram a campanha dos dois principais partidos.
TEXTO: Separados por uns escassos 500 metros, os comícios organizados pelo PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde) e pelo MpD (Movimento para a Democracia) na capital atraíram militantes interessados em ouvir as últimas mensagens dos líderes, mas também, muitos talvez só, os espectáculos: uma sucessão de actuações de música e dança por grupos amadores, como impõe a legislação eleitoral. Na amena noite da Cidade da Praia, nos mesmos espaços em que a campanha começara, duas semanas antes, inúmeros jovens circularam entre a Várzea, onde se concentrou o PAICV, e a praia da Gamboa, para onde afluíram os partidários do MpD. A marcação cerrada que assinalou a corrida eleitoral, e torna imprevisível o resultado da eleição, prosseguiu até ao fim. De modo pacífico. Manteve-se a tradição que Cabo Verde tem construído nas duas últimas décadas, ao longo de quatro legislaturas com alternância democrática, de travar a luta partidária no seu terreno de eleição: as políticas e as palavras. Não há registo de qualquer incidente e grupos de jovens dos dois partidos foram vistos em confraternização "numa boa". Nos palcos, dança, rap, e, pelo menos na concentração do PAICV, até declamação: um poema de intervenção política de Felisberto Vieira Lopes que procura contrariar a ideia de necessidade de mudança erguida como bandeira do MpD. "Mudança pa Disgraça?! - Kédu. Nunca más!!!". O ambiente foi de festa e também de feira, com roulottes e bancas de venda de comida. O quadro perfeito para Tatiana e Paula serem, também elas, vencedoras da última noite de campanha. Tatiana e Paula já ganharamTatiana, 22 anos, trouxe a bancada de venda de bifanas que costuma ter na zona de Palmarejo para a Gamboa e aproveitou a oportunidade de negócio. Escolheu a área do comício do MpD não por razões políticas mas porque "aqui tem mais espaço" e há que aproveitar ao máximo uma ocasião que "é boa para o negócio, é muito boa". Paula é lavadeira e não costuma vender na rua, mas também quis "fazer dinheiro" e preparou um balde de asas de frango para assar na berma da Avenida da Cidade de Lisboa, fechada ao trânsito para dar espaço à política. Esperava ter tudo vendido quando a noite chegasse ao fim. No discurso político, o líder do PAICV e primeiro-ministro, José Maria Neves, foi recebido com confetti e insistiu no pedido de uma vitória para que o desenvolvimento do país continue. "No dia 6, o que está em causa é Cabo Verde", disse. Criar o salário mínimo e o décimo terceiro mês foram promessas que deixou. O seu rival, Carlos Veiga, candidato do MpD à chefia do Governo, apelou a uma "maioria clara e confortável" e pediu afluência às urnas. "O futuro do país está nas vossas mãos, por isso não se pode facilitar, todos devem ir votar", pediu, num discurso como sempre em crioulo, a língua que toda a gente entende e de que os políticos não prescindem na acção política. Fim ao "ciclo di chatice"José Filomeno, número dois pelo círculo de Santiago Sul, apelara antes aos eleitores para que ponham hoje fim ao "ciclo di chatice", modo como se referiu aos dez anos de Governo PAICV. O partido que fez do seu "Mesti Muda" - "É preciso mudar" - um dos slogans mais bem conseguidos da campanha, repetiu até ao fim essa mensagem e disse aos cabo-verdianos que o futuro do seu país está nas suas mãos: "Nos terra sta bo mon". As atenções do último dia de campanha estiveram viradas principalmente para Santiago, a ilha com maior peso eleitoral e onde os líderes dos dois maiores partidos apostaram - ambos concorrem em todos os 13 círculos eleitorais, e não apenas o MpD, como por gralha ontem se escreveu nestas páginas.
REFERÊNCIAS: