"Ainda não temos uma democracia consolidada em Cabo Verde"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-13
SUMÁRIO: O líder do maior partido da oposição acha que Cabo Verde não tem uma "democracia consolidada, muito longe disso". No rescaldo das eleições legislativas de domingo, Carlos Veiga, presidente do MpD (Movimento para a Democracia), faz acusações graves ao partido vencedor, o PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde), e ao seu líder, José Maria Neves, e questiona o papel das missões de observadores.
TEXTO: O que é que correu mal nesta eleição?Vamos debater isso entre nós. Algumas coisas dizem respeito a nós mesmos, outras dizem respeito a todo o ambiente que existe. Foi um combate desigual. De um lado, todos os recursos do Estado à disposição e apoios de outro tipo; e do outro lado, do nosso lado, uma tentativa de criar, de inovar, de apresentar as coisas de forma objectiva. Numa sociedade que é muito vulnerável, e em que a consciência democrática não é forte, o sistema acaba por funcionar desta forma, mas pensamos que é preciso continuar a lutar para que a cultura democrática melhore substancialmente. Vai ocupar o lugar de deputado?Claro. Esse é o compromisso que eu assumi desde o início. Já fui deputado antes. Vou fazê-lo com todo o prazer e com toda a força para, na oposição, defender os valores, as propostas que fizemos e que acreditamos que são melhores. Continuamos a pensar que, se se mantiver a política actual, o país vai passar por momentos bastante difíceis e as pessoas, sobretudo os mais pobres, vão passar por momentos terríveis e o país não se vai desenvolver. Vai continuar também à frente do MpD?Pelo menos até à próxima convenção vou continuar. Que é quando?Em 2012, depois das autárquicas. Como interpreta a declaração do líder do PAICV de que vai abrir o Governo à sociedade civil, a independentes?Estamos aqui para ver. Não tem sido a prática do PAICV. Mas se o fizer. . . creio que seria uma boa solução. Estamos aqui para ver, é preciso que sejam de facto pessoas verdadeiramente independentes. Nós tivemos essa experiência nos anos 90, ela funcionou bem. Mas é sobretudo necessário reforçar as instituições democráticas. Penso que essa é que é a questão fundamental, porque essas instituições estão muito frágeis. Viu-se agora no período das eleições: a Comissão Nacional de Eleições não esteve presente em situações em que devia estar, instituições como a polícia foram cúmplices de actos públicos de compra de votos, não há um Tribunal Constitucional a funcionar - ele está criado na Constituição desde 1999, [mas] não há vontade política -, o Tribunal da Praia foi cercado pela polícia durante várias horas e não houve nenhuma consequência. As instituições estão extremamente fragilizadas em Cabo Verde. O mais importante é reforçar e consolidar as instituições e estar aberto a consensos, ir ao Parlamento para o debate com a oposição, ouvir a oposição. . . Isso é que é importante. O seu futuro político, já disse, passa pela Assembleia e pela liderança do MpD. E a um prazo um pouco mais longo. Que desafios se lhe podem colocar?O meu percurso político individual é irrelevante. Entrei na política por gosto, saí quando quis, voltei a entrar quando achei que era necessário, estarei enquanto considerar que sou necessário. No dia em que eu entender que já não tenho nenhuma utilidade, saio tranquilamente. O problema não é o meu percurso nem o meu futuro, o problema é o que é importante para a democracia em Cabo Verde. E acha que dentro de cinco anos o seu contributo ainda será importante?Vou trabalhar para que daqui a cinco anos, de facto, a situação esteja muito diferente [para que] o povo cabo-verdiano seja menos vulnerável a um conjunto de práticas que não abonam a democracia. Nessa altura, faria a avaliação se sou útil ou não. Os observadores da União Africana consideraram as eleições justas, transparentes. . . Eles vieram cá na véspera.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura tribunal