Itália teme “êxodo bíblico” de clandestinos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento -0.5
DATA: 2011-02-17
SUMÁRIO: A Itália e Tunísia chegaram a acordo para conter e impedir uma nova vaga de imigração clandestina depois de, nas últimas quatro semanas, mais de seis mil tunisinos terem desembarcado na pequena ilha italiana de Lampedusa, literalmente duplicando a sua população.
TEXTO: Nos termos do acordo de cooperação, a Tunísia vai receber “uma rede de radares e uma frota de embarcações rápidas”, além de um cheque no valor de 100 milhões de euros, passado pelo Governo italiano – que este fim-de-semana decretou o estado de emergência humanitária para responder à crise de imigração. Mas segundo o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, o acordo com a Tunísia não resolve o problema na sua totalidade: pela sua estimativa, cerca de 80 mil pessoas poderão tentar entrar ilegalmente em Itália nos próximos meses. O governante não explicou a lógica por detrás desse valor, mas hoje chegaram mais dois barcos com imigrantes ilegais vindos do Egipto, desta feita à Sicília. Um deles trazia 30 clandestinos, 26 dos quais menores de idade, o outro 66 pessoas. “O terramoto institucional que aconteceu no Egipto vai provocar um significativo fluxo imigratório”, antecipou Maroni, que confessou estar à espera de um “êxodo bíblico” de clandestinos. A “coincidência” do êxodo migratório acontecer imediatamente após as revoluções que resultaram na deposição dos antigos Presidentes Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia, e Hosni Mubarak, no Egipto, está a fazer aumentar os receios nos países europeus de uma crise de refugiados sem precedentes. A situação de vazio de poder (e de vigilância) que se vive naqueles países poderá estar a motivar a população a sair – isso e as condições especialmente favoráveis da navegação no Mediterrâneo, apontam os especialistas. “Uma revolução é sempre um gatilho para movimentos de migração, pois as pessoas tendem a aproveitar o ambiente de incerteza e mudança para escapar” para lugares que parecem mais prósperos e seguros, observou o porta-voz da Organização Internacional para a Migração, Jemini Pandya, à Associated Press. “O facto de as pessoas terem conseguido depor um ditador não significa que elas vão imediatamente obter empregos para poder alimentar as suas famílias”, acrescentou, referindo-se à difícil situação económica da Tunísia e Egipto. Nesse quadro, as Nações Unidas estimam que a pressão sobre as fronteiras europeias venha agudizar-se, até porque estão a acontecer protestos noutros países do Magrebe. A União Europeia reagiu à situação, reforçando o efectivo de agentes e a presença de meios da agência Frontex em águas internacionais, e mobilizando “os envelopes financeiros de emergência” para programas de refugiados e de protecção das fronteiras. Esta quarta-feira, o Governo francês emitiu um comunicado frisando que o país não aceitará nenhum imigrante tunisino que não seja portador de um visto de entrada válido. “Os imigrantes que não respeitarem as regras não serão bem-vindos”, alertou. Pelo seu lado, o ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maiziere, rejeitou uma proposta de “redistribuição” dos clandestinos tunisinos que chegaram a Itália por outros países europeus, na qualidade de refugiados. Soube-se, entretanto, que cinco tunisinos morreram quando o barco em que tentavam chegar a Itália naufragou, na passada sexta-feira. A guarda-costeira tunisina negou qualquer responsabilidade no sucedido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração humanitária imigrante