Khadafi enfrenta hoje o seu "Dia de Raiva"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.7
DATA: 2011-02-17
SUMÁRIO: O que seria a simples detenção de Fethi Tarbel, um advogado e activista dos direitos humanos, foi, na noite de terça-feira, o rastilho para raros protestos, seguidos de confrontos, na cidade de Bengasi. Tratou-se de um claro sinal de que a Líbia, controlada há mais de 40 anos por Muammar Kadhafi, não está imune à agitação que atravessa o mundo árabe.
TEXTO: Os confrontos ocorreram antes do "Dia de Raiva" - jornada de contestação semelhante às que têm ocorridos noutros países da região e que opositores do regime têm vindo a convocar para hoje através da rede social Facebook. Claro que Fethi Tarbel não é um advogado qualquer: representa famílias de prisioneiros mortos em 1996 na prisão de Abu Salim, em Trípoli, para onde o regime envia opositores e militantes islamistas. O desagrado pela sua detenção levou centenas de pessoas à rua, numa acção que degenerou em confrontos com a polícia e apoiantes de Kadhafi. "Os protestos, que começaram pelo pedido de libertação de Fethi Tarbel, rapidamente se transformaram num protesto anti-Kadhafi", disse a estação televisiva France 24 Abdulla Darrat, exilado líbio nos Estados Unidos e porta-voz do site oposicionista Khalas!. Fethi Tarbel foi detido "por ter espalhado um rumor segundo o qual a prisão [de Abu Salim] estava a arder", referiu o jornal privado Quryna, considerado próximo de Sei Al-Islam, filho de Kadhafi, e que se publica em Bengasi. Ao saberem da notícia, os manifestantes dirigiram-se à polícia e reclamaram a sua libertação. O responsável local terá concordado que Tarbel fosse solto. Mas isso não desmobilizou os contestatários. Na versão do Quryna, aos descontentes com a detenção juntaram-se "pessoas munidas de armas brancas e cocktails-molotov", que seguiram depois para a Praça Shajara. Foi aí que ocorreram os confrontos, que, segundo o director do hospital Al-Jala, citado pela AFP, provocaram ferimentos em 38 pessoas. Anteriormente, o jornal líbio referiu 14 feridos, entre os quais "dez membros das forças da ordem". Sites árabes, citados pela agência, indicam que os manifestantes, dois mil segundo algumas fontes, gritaram slogansanti-regime: "Bengasi levanta-te, este é o dia que esperavas, o sangue dos mártires não correu em vão", "O povo quer derrubar a corrupção". Um residente em Bengasi disse à Reuters que nos confrontos "estiveram envolvidas cerca de 500 ou 600 pessoas. Foram ao Comité Revolucionário [instalações do governo local] no bairro de Sabri e tentaram ir ao Comité Revolucionário central. . . Atiraram pedras". Alguns relatos indicam que foram incendiados automóveis. A polícia respondeu com canhões de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha. A força do regimeNa manhã de ontem as escolas estavam abertas e a ordem parecia ter voltado. Bengasi, segunda cidade líbia, a cerca de mil quilómetros de Trípoli, tem um historial de antagonismo face ao todo-poderoso líder que dirige um país rico em petróleo e gás, com uma população de 6, 5 milhões de pessoas. O golpe que, em 1969, colocou Kadhafi no poder não teve ali grande apoio. Diversos oposicionistas exilados e activistas islâmicos são de Bengasi. A televisão estatal mostrou imagens de uma manifestação na capital, de apoio ao mais antigo chefe de Estado em funções no continente africano. Segundo a Reuters, os participantes acusaram a estação Al-Jazira - que fez uma vasta cobertura do derrube dos ditadores tunisino e egípcio - de espalhar mentiras. A agência oficial, Jana, noticiou acções semelhantes de apoio a Kadhafi noutras cidades, incluindo Bengasi. "Sacrificamos o nosso sangue e as nossas almas pelo nosso líder", "Somos uma geração construída por Muammar e quem se lhe opuser será destruído", gritaram os manifestantes, segundo a agência. As autoridades líbias libertaram também ontem 110 membros do Grupo Islâmico de Combate Líbio, uma organização interdita. Mas o presidente da Liga Líbia dos Direitos do Homem, Mohamed Torniche, disse que a decisão já estava tomada e não tem relação com "qualquer outra questão". No último ano foram soltos mais de duas centenas e meia de islamistas depois de aceitarem renunciar à violência.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano Árabes