Medo de milícias e bandidos mantém as pessoas em casa na Líbia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-23
SUMÁRIO: O medo desceu hoje sobre várias cidades da Líbia, incluindo a capital, Trípoli, depois do discurso belicoso do líder do país, Muammar Khadafi, que prometeu ontem “morrer como um mártir”, usar a violência contra os que se manifestam contra o seu regime autoritário e castigar com a pena de morte os revoltosos. Ao entrar no décimo dia de contestação, a maior parte das pessoas só se sentem seguras em casa.
TEXTO: “Muita, muita gente está com medo de sair à rua em Trípoli e os homens armados pró-Khadafi andam por todo o lado a ameaçar quem se junta em grupo”, descreveu o tunisino Marwan Mohammed residente na capital líbia. Em volta da capital foi mobilizada uma cintura de postos de controlo militar, avançou a mesma fonte. A correspondente da BBC em Trípoli avançava que nas horas que se seguiram ao discurso de Khadafi – feito em frente ao quartel de Bab al-Aziza, na capital – foram ouvidos vários disparos, assim como fogo-de-artifício e dezenas de carros correram pela cidade a alta velocidade, com as buzinas a soar. Outra testemunha, que esta manhã passava já a fronteira para o Egipto, em fuga da violenta repressão das autoridades líbias contra os manifestantes pró-democracia, contou que “há muitos homens armados em Trípoli, e ladrões e bandidos”. “Estou muito feliz por conseguir regressar a casa”, disse à agência noticiosa britânica Reuters. Nas cidades de fronteira da Líbia com a Tunísia e Egipto, para onde acorre o grosso dos fluxos de refugiados, são vários e concordantes os relatos de estas zonas estarem pejadas de milícias. “Dizem-nos que se sairmos à rua à noite nos matam. As pessoas estão aterrorizadas. Muitas lojas estão fechadas, apenas uma ou outra padaria abriu”, contou Hamdi Chalbi, relatando que se ouviram disparos de tiros durante a noite de ontem para hoje. Contrastante, Bengasi – a segunda maior cidade do país e de onde eclodiu a vaga de protestos contra o regime – parece ser uma cidade em festa. “Quando as pessoas viram o discurso [de Khadafi, ontem à tarde transmitido em directo pela televisão estatal líbia] ficaram zangadas e começaram a gritar. Gritavam, ‘Não a Khadafi’. Mas hoje as coisas estão bem. As pessoas aqui estão felizes, felicitam-se dizendo que Bengasi está liberta”, contava um residente desta cidade, de onde já há dois dias surgiram relatos de que os militares e polícias ora retiraram do terreno ou aderiram à revolta popular exigindo a deposição de Khadafi. Na véspera, o coronel que governa a líbia há 42 anos jurara esmagar a revolta no país, ameaçando executar todos os que empunharem armas contra a Líbia e descrevendo os manifestantes como “baratas” e “ratos”. Instou ainda todos quantos “amam Muammar Khadafi” a defenderem o regime, a criarem “comités de defesa da revolução” para proteger “as estradas, as pontes, os aeroportos”. “Persigam-nos [os manifestantes], prendam-nos, entreguem-nos. Todos devem tomar o controlo das ruas, o povo líbio deve tomar o controlo da Líbia, vamos mostrar-lhes o que é uma revolução popular”. Apesar do medo que estas palavras inspiraram, fazendo muitos líbios crer que Khadafi prefere ver o país destruído a afastar-se do poder, o Governo parece actualmente não controlar já se não alguns bastiões territoriais, incluindo algumas partes da capital e a cidade de Sabha, no Sul do país. Toda a província de Cyrenaica, na costa leste da Líbia, está esta manhã já fora do controlo do Governo de Khadafi, anunciou o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini, cujo país é o principal parceiro económico da Líbia. O diplomata sublinhou ainda que a estimativa de terem ocorrido já "mais de mil mortes" desde que os protestos começaram "é bastante credível", desvalorizando o balanço oficial ontem feito pelas autoridades de Trípoli em que são reconhecidas apenas cerca de 300 vítimas mortais, 242 delas civis envolvidos nas manifestações anti-regime. Demissão de aliado do filho de KhadafiA engrossar a rebelião dentro do próprio regime líbio, um dos principais aliados de Saif al-Islam Khadafi, o filho do líder líbio tido como seu provável sucessor na chefia do Estado, apresentou a sua demissão em “protesto” contra a violência que varre o país.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência filho medo