Análise: Khadafi faz temer um cenário apocalíptico
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-25
SUMÁRIO: A única coisa segura que os analistas antevêem é que a Líbia permanecerá por muito tempo no caos. Está em curso uma guerra civil. Prever como ela terminará é um enigma. E um prolongado caos na Líbia terá fortes e dramáticas repercussões no Egipto e, sobretudo, na Tunísia, no início de um processo de transição política. E também na Europa, em termos de abastecimento energético e das vagas de imigrantes.
TEXTO: As informações dispersas que chegam da Líbia estão sujeitas a caução, dada a ausência de testemunhos independentes. Apenas se pode traçar um quadro genérico, dominado por interrogações. Os últimos dois dias confirmaram que Khadafi perdeu por completo o controlo da Cirenaica - a região oriental onde se situa a maioria dos poços de petróleo - e que se bate agora por conservar o domínio da região ocidental, onde está a capital, Trípoli. É aqui que a relação de forças se vai decidir. A sublevação da capital, no domingo e na segunda-feira, marcou um ponto de viragem. Todos os meios foram usados para reprimir as manifestações. O discurso de Khadafi na terça-feira foi uma "declaração de guerra". Pareceu patético mas foi levado a sério no ponto decisivo: para ele é uma questão "de vida ou morte" e preferirá acabar como "mártir" a fugir como o tunisino Ben Ali, dizem analistas. As forças de segurança do regime conseguiram "limpar" as ruas e praças centrais de Trípoli. Mas, apesar do apelo à mobilização feito por Khadafi, apenas escassas dezenas de jovens exibiam bandeiras verdes e o retrato do "guia", reportou a AFP. Mais numerosos eram os milicianos vestidos à civil de Kalachnikov na mão. Depois da "deserção" de muitas tribos e de grande parte do Exército regular, é mais um indício de apodrecimento no campo do líder líbio. "Salvar a vida"A curto prazo, Khadafi parece não ter nenhuma estratégia "senão salvar a vida", declarou ao Figaro o analista Luis Martinez, especialista na Líbia. "Procura estabelecer um perímetro de segurança para que os 60 mil homens da guarda revolucionária e dos comités da revolução, que lhe são ainda fiéis, possam resistir à guerrilha urbana em Trípoli. "Se recuperar o controlo da Tripolitânia, poderia depois negociar com as principais tribos um compromisso sobre a Cirenaica e o seu petróleo. Com os cem mil milhões de dólares de que dispõe e com a ajuda de mercenários africanos - prossegue Martinez - tentaria recuperar a vassalagem dos chefes tribais em nome do seu interesse: manter a renda petrolífera de que, afinal, todos vivem. Este "plano" tem um ponto fraco. A situação na Cirenaica parece sem retorno. E se as tribos não mudarem de opinião, poderão surgir fissuras nos próprios aparelhos de segurança que, se são directamente controlados pelo clã Khadafi, são também uma mescla de origens tribais. A queda do déspota seria então uma questão de dias, podendo assumir um quadro apocalíptico. E, sem o apoio das tribos, não parece provável que Khadafi tenha capacidade de projectar forças militares para reconquistar o Leste e o seu petróleo, condição de sobrevivência do regime. Na terça-feira, a agência americana Stratfor fez eco de rumores sobre um golpe de Estado em preparação. Também esta especulação é pouco credível: apenas a guarda revolucionária tem meios para fazer um golpe. E nesta matéria tudo é opaco. As tribos não têm força para derrubar o "guia" mas desempenharam um papel fundamental: "Ao aderirem à contestação, os chefes tribais legitimaram o movimento", afirma o analista Hasni Habidi. "A Líbia é o país mais tribal do mundo árabe. " Com Khadafi, os chefes tribais deixaram de ter peso político mas, em compensação, tornaram-se essenciais para coesão social e a estabilidade do país". Por outro lado, o "sistema Khadafi" implicava um equilíbrio entre tribos e clãs, que ele arbitrava. A desagregação deste sistema volta-se agora contra o mentor. E a seguir?O que a todos obceca é saber se e quando Khadafi vai cair ou se ainda conseguirá retomar o controlo da situação. Os analistas mais prudentes avisam que, com o líder líbio, "nunca se podem fazer previsões".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra campo ajuda social