Reportagem: Milhares de estrangeiros tentam deixar a Líbia de barco
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-03-01
SUMÁRIO: Uma fila interminável serpenteia junto ao navio. "Não sei para onde vamos", diz uma rapariga de 19 anos, Mary Rose. Está há várias horas à espera para entrar no paquete Alger, que vai zarpar para Alexandria, no Egipto, com dois mil refugiados a bordo. "A agência mandou-nos vir para aqui, não sabemos para onde vamos". Mary Rose é indiana e, desde há um ano, trabalha como baby-sitter em Bengasi. "Vamos todos embora, por causa dos problemas. Não sei se voltaremos."
TEXTO: Os "problemas" terminaram por agora em Bengasi, desde que as forças leais a Muammar Khadafi foram vencidas pelos rebeldes, mas Mary Rose e os milhares de imigrantes que tentam embarcar não vêem assim a questão. "Isto está muito mau. É uma guerra, ninguém pode ficar aqui". Mohamed, 20 anos, argelino que veio para a Líbia estudar, observa da janela do seu carro os milhares de indianos, argelinos e sírios que chegam em camiões de caixa aberta, com malas e sacos às costas e o pânico nos olhos. "São paranóicos", diz ele. "Não há problemas com os líbios. Nenhum me fez mal, eu apoio a revolução deles, e quero ficar cá. " Rafiq, que trabalha para o comité dos revolucionários, pergunta a vários indianos se algum líbio lhes fez mal. "Não, não. Os líbios são nossos amigos", responde Santokh Kumar, 30 anos, imigrante do Punjab. "Eu vou-me embora por causa da guerra. Mas quando tudo acalmar, volto". Santokh trabalha numa fábrica de transformação de madeira e vive num campo de operários, com outros imigrantes da Índia e alguns do Gana. Ganha 600 dólares por mês, que envia na totalidade para a Índia. Vive dos 75 dinares mensais do subsídio de alimentação. "O nosso patrocinador é líbio. Chama-se Amar Ali. A empresa fechou e ele mandou-nos regressar. Não temos nenhuma razão de queixa dele. E são os líbios que estão a ajudar-nos a vir para aqui. Pessoas que emprestam camiões e vão buscar os indianos, por várias povoações". Rafiq fica satisfeito com as respostas. "Dizem que nós perseguimos os estrangeiros. Não é verdade. Podem trabalhar, fazer a sua vida. Só fazemos mal aos mercenários, de países africanos, que Khadafi contratou". Atrás do Alger está outro navio, o Europe Palace, e noutro terminal do porto atracou um navio militar sírio. Tem capacidade para mil pessoas, provavelmente menos do que os homens, mulheres e crianças que se empurram para conseguir chegar aos dois funcionários que, sentados em cadeiras de plástico, carimbam os passaportes. Um deles é Mustafa Ahbara, 33 anos, que trabalha no aeroporto, o outro Mahmoud, 24 anos, do Crescente Vermelho. Trouxeram dois carimbos da sede dos serviços de imigração e estão a autenticar a saída dos sírios. Colaboram com o comité. Mortos por todo o lado"Eu não vou regressar mais à Líbia", diz Sfr, sírio de 23 anos. "Não é por mim, mas pela minha família. Têm muito medo. Viram coisas que uma pessoa não devia ver nunca. " A mãe, Safira, o irmão, Mustafa, de 17 anos, e a irmã, Fátima, de 13, não conseguem dizer nada. Vivem em puro terror desde que começou a revolução. "Houve combates em frente do local onde trabalhamos", explica. "Mortos por todo o lado, carros a arder. Tenho de levar a minha família para fora deste país. "A revolução líbia começou em Bengasi no dia 17 de Fevereiro, de forma pacífica, tal como na Tunísia e no Egipto. Mas o que aconteceu a seguir foi muito diferente. As forças de Khadafi dispararam sobre os manifestantes. Usaram metralhadoras e armas pesadas, como baterias antiaéreas. Os buracos das balas são ainda visíveis. Mas a seguir os rebeldes reagiram. Vários comandantes do Exército passaram para o lado dos revoltosos e deram luta às forças especiais do Presidente. Contaram com o apoio de centenas de soldados, e distribuíram armas à população. Os combates decorreram durante três dias, centrados na praça Berka, onde se situa a sede das forças de Khadafi, a Katiba. É um complexo militar cercado por muros altos. No interior, há vários edifícios onde se aquartelavam as forças especiais, um palco onde o Presidente, quando vinha à cidade, fazia os seus discursos ao povo, e vários luxuosos palácios onde ele e os seus apaniguados se hospedavam.
REFERÊNCIAS:
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