Para Angola, lentamente, à procura dos mortos da guerra colonial
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2011-03-05
SUMÁRIO: Pedimos aos leitores sugestões de uma história que gostassem de ver publicada no 21º aniversário do PÚBLICO. Entre as sugestões, seleccionámos cinco, submetidas depois a votação entre 22 e 27 de Fevereiro. Venceu a sugestão sobre o Museu do Combatente e os 50 anos do início da guerra do Ultramar.
TEXTO: No livro de honra da Liga dos Combatentes, o embaixador de Angola em Lisboa, José Marcos Barrica, deixou escrita pelo seu punho uma promessa que responde a um projecto iniciado há sete anos: tudo fazer para que Portugal possa procurar os militares que ficaram sepultados em Angola. A promessa do embaixador angolano, em Novembro último, numa visita à sede da Liga dos Combatentes em Lisboa, ainda não se traduziu em nada de concreto — para pena do tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, presidente desta instituição tutelada pelo ministro da Defesa. Era por Angola— onde em 1961 rebentou a guerra colonial, que haveria de se propagar às outras colónias portuguesas em África — que Chito Rodrigues gostaria de ter começado o programa Conservação das Memórias. Lançado em 2003, este programa, em curso, pretende localizar, identificar, concentrar e dignificar os locais onde se encontrem portugueses nos vários cantos do mundo. E Angola tinha logo sido escolhida para o início dos trabalhos porque, afinal, também foi ali que tiveram lugar os ataques de 4 de Fevereiro e 15 de Março, de 1961, as duas datas mais marcantes do início das guerras contra o colonialismo português. A 4 de Fevereiro, grupos de angolanos, armados sobretudo com catanas, atacaram durante a madrugada cadeias e instalações oficiais em Luanda. Dos ataques resultou a morte de sete elementos das forças de segurança e de cerca de 15 atacantes, além de um número indeterminado de feridos. A 15 de Março deu-se uma sublevação no Norte de Angola, que provocou a morte de mais de 800 brancos e milhares de negros ao seu serviço. Esses ataques levariam, a 13 de Abril, António de Oliveira Salazar, presidente do Conselho de Ministros, a falar da necessidade de defender a todo o custo a maior das colónias portuguesas e a usar palavras que ficariam célebres: era altura de “andar rapidamente e em força” para Angola. Evocação a 15 de MarçoOs acontecimentos de 15 de Março de 1961, que marcariam o início do fim do império português, vão ser evocados no próximo dia de 15, em Lisboa, pela Liga: às 10h30, será celebrada uma missa no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença do ministro da Defesa Nacional, Augusto Santos Silva; às 12h30, o Presidente da República, Cavaco Silva, irá descerrar uma placa evocativa do início do conflito em Angola no Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto do Museu do Combatente no Forte do Bom Sucesso; e por fim, às 17h30, poderão ouvir-se na Sociedade de Geografia as palestras de Adriano Moreira e do general Gonçalves Ribeiro, que após o 25 de Abril foi o Alto Comissário para os Desalojados vindos das antigas colónias. “Não estamos a comemorar, estamos a evocar o esforço da nação portuguesa na guerra colonial, estamos a evocar uma partilha de memórias e a homenagear todos os vivos, os mortos e as vítimas envolvidos no conflito, independentemente do lado por que se bateram”, diz Chito Rodrigues. Voltando a 2003, a Liga estabeleceu os primeiros contactos com as autoridades angolanas para localizar e recuperar os restos mortais dos militares ao serviço de Portugal. Mas até agora, altura em que se evocam os 50 anos do início da guerra colonial, esse plano não passou do papel. Num mapa de Angola, repleto de bolas coloridas, foi sendo reunida a informação sobre os militares que lá ficaram, tanto de recrutamento local como oriundos da então chamada metrópole, e os sítios onde estarão sepultados. Entre 1961 e 1975, ficaram lá 1448 militares (586 da metrópole), em 187 locais. Mas é preciso ir a esses sítios ver como estão agora, confirmar a identificação dos restos mortais e depois concentrá-los nalguns pontos de Angola apenas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra