A Europa precisa de uma agenda democrática para o Mediterrâneo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-03-06
SUMÁRIO: Os europeus temiam a "rua árabe". Esqueceram-se da democracia e puseram todas as fichas na segurança. Não viram as mudanças chegar.
TEXTO: O Monde francês elogiava o "bom exemplo espanhol". Rodriguez Zapatero foi o primeiro líder europeu a deslocar-se à Tunísia. Escolheu as palavras certas: "Estamos aqui para ouvir e ajudar a construir um futuro feito de democracia, liberdade e dignidade". O elogio de Madrid foi mais uma forma de pôr a nu o fiasco inicial da política francesa numa região vista como prioridade estratégica e um dos instrumentos de "diferenciação" internacional da França. Paris assentava a política para o mundo árabe em dois pilares: a Tunísia de Ben Ali e o Egipto de Hosni Mubarak. "Perdeu os dois. " Nicolas Sar- kozy sacrificou a chefe da diplomacia e prometeu "uma nova era". A França tomou a dianteira da acção internacional para travar Khadafi. Mas, na história das relações da Europa com os vizinhos do Sul, dificilmente haverá inocentes. O El País chamou à mesma iniciativa de Zapatero uma "diplomacia a galope". Madrid tenta adaptar-se "a grande velocidade", escreve em editorial. "A mudança foi de tal ordem que as linhas mestras da política externa [de Espanha] voltam a estar por definir, (. . . ) a posição internacional do país está debilitada". Estamos a falar de dois países europeus com grande interesse estratégico no Mediterrâneo, ditado pela história e pela geografia. Percebe-se que tenham sido, com mais de uma década de intervalo, os patrocinadores das duas grandes balizas da política europeia para a sua vizinhança do Sul: o Processo de Barcelona (1995) e a União para o Mediterrâneo (2008). Entre esses dois momentos, vai um "mundo" de erros e de enganos. A Parceria Euro-Mediterrânica, lançada em Barcelona, "tinha uma componente civil forte e uma perspectiva de democratização", diz Álvaro de Vasconcelos, hoje director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia (EUISS) e durante muitos anos coordenador da rede EuroMesco de think-tanks das duas margens do Mediterrâneo, que foi um dos resultados do processo. "Essa é a parte boa da história", diz Nathalia Tucci, subdirectora do Instituto de Assuntos Internacionais de Roma (IAI). "A Europa tinha uma política de vizinhança que oferecia instrumentos de ajuda e de cooperação cujo objectivo era induzir a mudança, incluindo política. " Ambos convergem quanto ao momento de viragem: a Cimeira de Barcelona em 2005, que pretendia celebrar os dez anos da parceria e relançá-la com maior vigor. "Houve um forte empenho da Comissão Europeia para reforçar a componente política do processo e foi apresentada uma agenda democrática cujo objectivo era, a prazo, desenvolver uma comunidade de democracias", lembra o director do EUISS. Foi um absoluto fracasso. "Nenhum líder dos países não europeus compareceu. " O pretexto - ou, mais exactamente, a desculpa - foi o impasse no conflito israelo-palestiniano. A Europa tirou as conclusões erradas deste fracasso. Houve o 11 de Setembro e o 11 de Março e o 7 de Julho e a emergência do radicalismo islâmico. A "condicionalidade democrática" das políticas europeias começou a ser considerada "irrealista". A União regressou à lógica do apoio dos regimes autoritários - o "diabo que já conhecíamos". "Passou a concentrar-se na estabilidade regional e considerou que os regimes autoritários e ditatoriais do Sul eram melhores do que qualquer alternativa", considera Vasconcelos. O combate ao terrorismo e à imigração clandestina subiram nas prioridades. O regime de Khadafi transformou-se no melhor aliado para travar a vaga de imigrantes clandestinos que partiam da África subsariana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração ajuda comunidade