"Há pressões cada vez maiores para um Governo PS-PSD"
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-03-10
SUMÁRIO: Quando hoje a bancada do PSD se levantar para se abster na moção de censura - e com isso sustentar o Governo -, Francisco Louçã diz que essa imagem está distorcida. "O governo PS é muleta do PSD", diz. Em entrevista ao PÚBLICO, o coordenador do BE não reconhece qualquer crítica à oportunidade deste "cartão vermelho" e recusa a ideia de que o seu chumbo se transforme num balão de oxigénio para Sócrates.
TEXTO: Qual o sentido de apresentar uma moção de censura que se "aniquila" horas depois?A moção de censura tem um objectivo político e social, ambos completamente conseguidos. A parte social é responder por uma parte importante do país que está a ser destruído por uma economia cruel e que são gerações que não têm voz. Mas tem uma função política: a clarificação. Não houve nenhuma aniquilação a não ser a confirmação de que o PSD escolhe uma estratégia de terra queimada - a degradação da política portuguesa - porque espera que o Governo tome as piores medidas sociais ao longo do próximo ano. Mas o anúncio e o timing da moção foram muito criticados dentro e fora do partido. Admite que a gestão da comunicação não correu bem?A moção tem sido muito criticada. Internamente, por quem achava que não devíamos fazer uma moção de censura. Daniel Oliveira achava que não devíamos fazer um ataque às políticas do Governo. Estou em desacordo com ele, mas não é essa a opinião dominante no partido. Publicamente, um editorial do PÚBLICO dizia que a moção de censura era um fiasco político. Mas isso é opinião de comentadores, sobretudo de direita e de centro. A moção de censura foi anunciada no tempo certo, no primeiro dia em que ela tem utilidade constitucional. Provocou uma comoção como nenhuma outra até hoje e um ataque ao Bloco de Esquerda como nunca tinha ocorrido e isso é positivo. Há uma esquerda que não deve fechar os olhos, deve apresentar alternativas. Mas isto não deu a imagem de que o Bloco é um partido como os outros?Houve um artigo do PÚBLICO com esse título. O que nos tornaria iguais aos outros era fechar os olhos à degradação da política portuguesa, era esperar que o PS num dia de redenção descobrisse a importância do desemprego, do salário, da qualificação. E que voltasse a uma política de esquerda. Isso não acontecerá. A moção pode ser entendida como uma demarcação do PS, depois dos dois partidos terem apoiado o mesmo candidato presidencial?Vi essa crítica e acho que ela é infantil. O Bloco de Esquerda não fez nenhuma convergência com o PS, fez uma convergência com Manuel Alegre. A candidatura presidencial não é de partidos, é de uma pessoa. Temos muito orgulho nessa campanha que fizemos. Os resultados foram uma derrota, mas demonstraram que Manuel Alegre era o único que podia disputar os votos com Cavaco Silva. Por poucas dezenas de milhares de votos não aconteceu uma segunda volta. Acabada a eleição presidencial, estamos num ciclo diferente. O chumbo desta moção não será um balão de oxigénio para Sócrates?Não. Esta moção condena o Governo. O apoio do PSD demonstra um sentido de hipocrisia e de oportunismo político. Hoje em dia o Governo poderá vangloriar-se de ter o PSD como sua muleta nesta moção de censura, mas todos os portugueses percebem o contrário. O Governo PS é muleta do PSD. Este é o tempo do PSD, são as medidas do PSD, os avanços do PSD, uma direita que nunca foi tão liberal como agora. Há um Governo que se vai afundando lentamente para chegar ao pior resultado do PS nos últimos 20 anos - porque é isso que vai acontecer nas eleições - para entregar o poder a uma direita que o utilizou durante este tempo. Algumas das causas do BE - a despenalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo - acabaram por ser concretizadas pelos Governos PS. Neste sentido, a moção não é um contra-senso?Porquê? Não vejo qualquer ligação. Houve uma maioria, que não foi apenas do Bloco, do PCP, do PS, de imensos deputados do PSD, no casamento gay, por exemplo. Agora esta moção de censura tem que ver com a maior fractura na sociedade: o desemprego e a precariedade. O PCP anunciou apoio à moção num texto onde se lê que a censura deve ser a da mobilização dos trabalhadores nas ruas. Como é que leu essa posição?
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP BE