Jovens mobilizam-se para manifestação low cost contra a precariedade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.05
DATA: 2011-03-12
SUMÁRIO: Ninguém sabe quantas pessoas participam hoje no Protesto Geração à Rasca convocado por quatro jovens pela Internet que foi preparado sem dinheiro e com "boa vontade".
TEXTO: Alfredo Martins ia lançando os pontos que permaneciam em aberto para o Protesto Geração à Rasca: "Temos de decidir de uma vez por todas o que vamos pôr nas faixas. " O actor de 31 anos tivera um momento de inspiração numa entrevista que dera dias antes: "Um país à rasca". Ora ali estava uma frase consensual. A outra haveria de ser sugerida por Cristina Andrade, uma formadora de 34 anos, depois de reler o manifesto, o programa do protesto que às 15h de hoje se ouvirá em 11 cidades portuguesas: "Por um futuro digno. " Quatro amigos - Alexandre de Sousa Carvalho, de 25 anos, Paula Gil, de 26, João Labrincha, de 27, e António Frazão, de 25 - inventaram este protesto "laico, pacífico e apartidário". Idealizaram-no em Lisboa. A palavra propagou-se através do Facebook. Havia muita gente a perguntar: "E no Porto?" Alexandre Afonso, de 34 anos, mandou um e-mail a voluntariar-se para impulsionar uma réplica no Porto. Disseram-lhe que sim. Perderam o controlo ao rastilho que atearam na Internet. Noutras nove cidades, outros jovens adoptaram o manifesto que convoca "desempregados, "quinhentoseuristas" e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal". Só Lisboa e Porto (de onde a manifestação parte, respectivamente do Cinema São Jorge, na Avenida da Liberdade, e da Praça da Batalha) se coordenaram para a marcha de hoje, reiteraria Paula Gil, por telefone. Todo o resto ficou por sua própria conta. E quem chama para a rua em Guimarães nem fez a comunicação à câmara, como manda a lei. Paula Gil acolheu na sua própria casa as duas dezenas que se juntaram a ela e aos outros mentores do Protesto Geração à Rasca em Lisboa. No Porto, o "quartel-general" das duas dezenas foi o Café Aviz. Numa e noutra cidade, alongaram-se reuniões semanais, nocturnas. A tratar da logística. E a debater problemas inesperados como o aparecimento de um grupo que se apropriou da imagem do movimento e emitiu um comunicado a pedir a demissão de toda a classe política. Sem imaginar se outros se reuniam e em que moldes. Na última quarta-feira, no Aviz, ultimavam-se detalhes em torno das mesas encaixadas em forma de U e cobertas com uma toalha azul e branca. "Quem vai ler o manifesto?", perguntava uma rapariga. "A do costume", ria-se outra. A do costume era Inês Gregório, de 29 anos, que, com João Moreira, de 23, haveria de sair dali porta-voz dos "descontentes" com o desemprego e com a precariedade. Não são todos inexperientes. No grupo de Lisboa, Paula Gil é filiada no BE, Alexandre de Sousa Carvalho pertenceu à JCP, João Labrincha à JS. No grupo do Porto, também se podem detectar exemplos de actual ou antiga actividade cívica: José Miranda é do BE, Inês Gregório militou na JCP, Cristina Andrade e Adriano Campos integram o Fartos Destes Recibos Verdes. "Uma pessoa que faça parte de um partido não deve sentir-se limitada na sua participação", explicava Adriano Campos, estudante de Sociologia, de 26 anos. Mas a sua participação faz-se a título individual. "Para o bem e para o mal, há muita gente que pergunta: "Isto é de algum partido?"", lembrava João Moreira, professor de História a ensinar História da Arte. E é a resposta negativa que as sossega, que as faz pensar em sair à rua hoje. No protesto cabem pessoas de to- das as religiões e pessoas sem religião, pessoas de todos os partidos e pessoas de nenhum partido. E é essa, salienta Paula Gil, a força do movimento, que soma perto de 60 mil adesões na mais popular rede social. Não imagina quantas pessoas aparecerão. Apareçam quantas pessoas aparecerem, "o objectivo está conseguido": fomentar o debate, a democracia participativa.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE