Algarve vai começar a produzir caviar
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DATA: 2011-03-31
SUMÁRIO: As mesas mais requintadas já se habituaram a ter produtos algarvios, como a flor de sal de Castro Marim ou a ostra de Alvor e, dentro de quatro anos, se o projecto de Paulo Pedro e Valery Afilov não falhar, irão ter por companhia o caviar português, made in Algarve.
TEXTO: A ideia desta produção partiu do ucraniano Valery Afilov, que a propôs ao biólogo marinho Paulo Pedro, da Universidade do Algarve. Juntos delinearam as bases do projecto e levaram-no ao concurso de ideias realizado por aquela mesma universidade. Resultado: ganharam e, na semana passada, receberam o Prémio Especial Economia do Mar, neste concurso que teve o apoio da Caixa Geral de Depósitos. O prémio traduz-se num conjunto de apoios não financeiros "e ajuda a abrir portas ao investimento", diz Paulo Pedro, que vai precisar de 1, 5 milhões de euros para os primeiros sete anos de investimento. A primeira embalagem de caviar português poderá estar na mesa dentro de três a quatro anos, o tempo necessário para que o esturjão que vai ser criado em aquacultura produza as ovas. A equipa irá comprar peixes com um centímetro de comprimento, porque comprar espécimes adultos seria inviável - seriam muito caros e não se adaptariam ao cativeiro. Temperatura amena ajudaPaulo Pedro também teve dúvidas quando Valery Afilov, com 12 anos de experiência na produção de caviar em aquacultura, lhe falou deste negócio. O esturjão, de onde se extrai as ovas (caviar), não vive só em águas frias? "Essa foi a primeira pergunta que fiz, e, afinal, a temperatura óptima para o crescimento do peixe varia entre os 24 e os 26 graus. " Em países como a Rússia, acrescenta, o peixe chega a necessitar de 20 anos para atingir o tamanho adulto. A mesma espécie no Algarve pode atingir 50 quilos, ao fim de sete anos. Convencidos de que as temperaturas amenas da região iriam fazer com que o esturjão crescesse duas ou três vezes mais rápido do que nas águas frias da Rússia, Paulo e Valery abriram o círculo a Jorge Raiado, um produtor de flor de sal de Castro Marim e ligado às lojas dos produtos gourmet. Contam estar a produzir 600 a 700 quilos de caviar por ano, a partir de 2015/2016. O preço de um quilo desta iguaria varia entre 1500 e 5000 euros. Há clientes que chegam a esperar anos pelo produto. Quem pense que come caviar natural, desengane-se. "O caviar natural é ilegal, o que existe é produzido em aquacultura, porque é uma espécie protegida", frisa o biólogo. A unidade de produção que vai ser criada no Algarve vai recorrer a quatro espécies diferentes: beluga (Huso huso), russo (Acipenser gueldenstaedtii), siberiano (Acipenser baerii) e starlet (Acipenser ruthenus), dado terem o crescimento mais rápido e a maturação poder suceder dependendo da espécie entre o 3. º e o 7. º ano. "Temos interesse, numa segunda fase, em produzir também esturjão atlântico (Acipenser sturio) e poder contribuir para o repovoamento desta espécie", que se extinguiu em Portugal (ver caixa), salienta Paulo Pedro. "Há relatos de captura de esturjão no rio Guadiana até à década de 1970. " Porém, a pesca não tinha por objectivo o caviar, mas a carne do peixe. Esta produção em aquacultura realiza-se em circuito fechado, em tanques de água doce, dentro de armazéns. O projecto, diz Paulo Pedro foi concebido a pensar "essencialmente na exportação", mas os "bons restaurantes da região não irão perder a oportunidade de ter o caviar português". Piscar o olho a TaviraA localização para a exploração ainda não está definida, podendo surgir em qualquer parte, dependendo das melhores condições que forem oferecidas. A zona de Tavira é a que, à partida, surge como a mais provável, já que os promotores pretendem utilizar a água, nas mesmas condições que os agricultores, a preços mais baixos, através da Associação de Regantes. No que diz respeito aos potenciais investidores no projecto, diz o biólogo, "tem havido muitas manifestações de interesse". "Mas reconheço que produzir douradas é mais fácil. "Licenciamento será a parte mais difícil
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda carne espécie cativeiro ilegal