Um santo do seu modelo de Igreja, dizem os críticos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-24
SUMÁRIO: A rápida beatificação de João Paulo II, apenas seis anos depois da sua morte, e a sua quase certa canonização, fazem do Papa Wojtyla um santo "do seu próprio modelo de Igreja e de santidade". A expressão é do teólogo mexicano Javier del Ángel, membro da rede de investigadores em religião daquele país latino-americano, e resume o sentir de muitos católicos em relação ao acto a que Bento XV presidirá no próximo domingo.
TEXTO: Logo após o anúncio da beatificação, em Janeiro, surgiu mesmo um manifesto contra a decisão. O Observatório Eclesial do México promoveu uma petição, assinada por teólogos e vários outros católicos, contestando a proclamação de João Paulo II como beato. O documento, subscrito entre outros por Casiano Floristán, professor emérito da Universidade Pontifícia de Salamanca e considerado um moderado, aponta vários argumentos críticos do pontificado do Papa polaco: uma "tenaz oposição a reconsiderar, à luz do Evangelho, da ciência e da história, algumas normas de ética sexual"; a "dura confirmação do celibato eclesiástico"; a recusa em "discutir de forma séria e profunda a condição da mulher na Igreja"; a "repressão e marginalização" exercida sobre muitos teólogos, teólogas, religiosos e religiosas. Para estes críticos, está também em causa a forma como o Papa polaco lidou com a questão dos abusos do clero sobre menores. Embora no final do seu pontificado João Paulo II tenha agido firmemente e pedido acção dura contra os abusadores, não deixou de apoiar até ao fim o padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. Maciel teve relações com pelo menos duas mulheres, abusou de menores, incluindo um dos filhos que teve, consumiu droga e terá enviado dinheiro para vários responsáveis da Cúria Romana com a intenção de obter favores. João Paulo II apoiou-se no padre mexicano para combater a influência dos teólogos da libertação na América Latina e por isso lhe deu também o seu apoio até final da vida. O documento crítico surgido em Janeiro aponta ainda a não aplicação do "princípio da colegialidade no governo da Igreja", contrariando as orientações do Concílio Vaticano II. E também condena o papel da diplomacia do Vaticano, expedita a isolar bispos como Oscar Romero, assassinado pelos militares em El Salvador por defender mais justiça social, e em silenciar as violações de regimes ditatoriais como os da América Latina. Grandes contradiçõesNo texto do Apelo à Clareza, os subscritores não negam que João Paulo II teve aspectos positivos no seu pontificado, incluindo o "compromisso pela paz" e os diversos pedidos de perdão pelas culpas históricas da Igreja. Também o Movimento Internacional Nós Somos Igreja, acusa João Paulo II de "grandes contradições", com um pontificado que manifestou a discrepância entre "o seu compromisso em reformar e dialogar com o mundo e o seu retorno ao autoritarismo dentro da Igreja". Num texto, publicado também no Observatório Eclesial mexicano, Javier del Ángel retoma este argumento para dizer que o Papa polaco era "aparentemente aberto ao mundo para escutar, mas fechado ao diálogo com os que dissentiam dele" no interior da Igreja. À semelhança de outros teólogos e grupos, Ángel diz que João Paulo II "não deveria ser canonizado, pelo menos para já". E que só o tempo deveria demonstrar se o pontificado wojtyliano legou uma Igreja "mais de acordo com os valores evangélicos" - e que esse facto "e não os milagres deveriam constituir a "prova" mais contundente de santidade".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher social sexual mulheres