Um Papa fora do comum e uma beatificação fora da lei
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-04-25
SUMÁRIO: É uma beatificação fora das normas, admite o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos. Que foi pedida por uma multidão de católicos logo na altura do seu funeral. No próximo domingo, Bento XVI proclamará beato João Paulo II – será a primeira vez que um Papa beatifica o seu antecessor. Mais um recorde acrescentado aos números do segundo pontificado mais longo da história, do Papa que mais viajou e que mais pessoas teve no seu funeral – quatro a cinco milhões, em Roma.
TEXTO: Após o anúncio da beatificação, em Janeiro, o cardeal Amato admitia, em entrevista à Rádio Vaticano, que o processo de beatificação de João Paulo II tinha sido mais rápido que o normal. Desde logo, por ter sido dispensado da regra que obriga a esperar cinco anos após a sua morte para a abertura do mesmo. Citado pelo jornal francês La Croix, Amato acrescentava que o anterior Papa tinha beneficiado de uma "via prioritária", evitando a "lista de espera" habitual. Apesar das vozes críticas, que continuam a manifestar-se, logo a 28 de Abril de 2005 (João Paulo II morrera dia 2), o novo Papa, Bento XVI, decidiu autorizar a abertura dos procedimentos em ordem à beatificação do seu antecessor, convicto da santidade de Wojtyla. O processo foi formalmente iniciado dois meses depois, a 28 de Junho, e durou apenas dois anos. Um tempo curtíssimo, considerando todos os textos, documentos e escritos que, nestes casos, são sempre analisados. Ora, falando apenas dos documentos mais importantes, Wojtyla publicou 14 encíclicas e uma centena de outros textos apostólicos, fez mais de mil audiências gerais, pronunciou mais de três mil discursos, além de outros textos, cartas e intervenções. Ou seja, há uma obra imensa que, em circunstâncias normais, levaria vários anos a investigar. O processo, de qualquer modo, foi uma "confirmação da total transparência" da vida de João Paulo II e da "sua coerência, energia, entusiasmo, profundidade e natureza", como dizia o padre Slawomir Oder, postulador da causa de beatificação, e cujo livro João Paulo II Santo está publicado em português. O postulador defende o Papa Wojtyla dizendo que ele "sabia escutar e aceitar a crítica", sem renunciar às suas posições, quer nos anos difíceis na Polónia, quer diante da "incompreensão da opinião pública predominante nos anos do seu pontificado". "Santo súbito"Para a rapidez do processo, valeu também um milagre rápido. A popularidade de João Paulo II levou a que muitos católicos, no seu funeral, pedissem a proclamação de "santo súbito", ou seja, que ele fosse imediatamente declarado santo, como acontecia há séculos, antes de a Igreja estabelecer normas mais lentas. Normal era também que muitos crentes passassem a invocar o primeiro Papa polaco da história nas suas orações. Foi o que fez Marie Simon-Pierre Normand, freira francesa do Instituto das Pequenas Irmãs das Maternidades Católicas, que, desde 2001 sofria de Parkinson, tal como João Paulo II. De 2 para 3 de Junho de 2005, dois meses depois da morte do Papa Wojtyla, quando tinha 44 anos, a irmã Marie sentiu-se curada. "Após o diagnóstico, era difícil para mim ver João Paulo II na televisão. Sentia-me, no entanto, muito próxima dele na oração e sabia que podia compreender aquilo que ele vivia. Admirava também a sua força e coragem, que me estimulavam a não me entregar e a amar este sofrimento", dizia a freira, citada pela agência Zenit. Marie Simon-Pierre ainda pediu para ser dispensada do seu trabalho de enfermeira, mas a superiora disse-lhe para não desistir. Nessa noite, sentiu que a rigidez das articulações a abandonara. "O que Deus me permitiu viver por intercessão de João Paulo II é um grande mistério, difícil de explicar em palavras, mas nada é impossível para Deus", afirmava. A irmã Marie será uma das pessoas que participa na vigília de sábado à noite, no Circo Massimo, em Roma, que antecede a cerimónia de beatificação. A vigília contará também com testemunhos de várias pessoas que conviveram com João Paulo II, como Joaquin Navarro-Vals, que foi seu porta-voz, ou o actual cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi seu secretário.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte circo