WikiLeaks: EUA mantiveram centenas de inocentes em Guantánamo
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DATA: 2011-04-25
SUMÁRIO: Uma nova série de documentos secretos publicados no site da WikiLeaks revela que, entre 2002 e 2009, os Estados Unidos mantiveram sob custódia no campo militar de Guantánamo centenas de prisioneiros com pouca ou mesmo nenhuma participação em actividades terroristas, e libertaram muitos outros que se revelaram ser perigosos extremistas.
TEXTO: Um deles foi Said Mohammed Alam Shah, um indivíduo de 24 anos capturado no Afeganistão e que negou aos interrogadores de Guantánamo ter qualquer conhecimento da organização, uma vez que tinha apenas sido contratado como motorista pelos taliban. A sua história foi considerada credível pelos analistas militares e o prisioneiro foi repatriado para o Afeganistão em 2004. Pouco tempo depois, os Estados Unidos constataram que o seu antigo prisioneiro era, na verdade, um importante militante de origem paquistanesa chamado Abdullah Mehsud. Antes de morrer num ataque suicida em 2007, Mehsud gravou e distribuiu vários vídeos com ordens jihadistas, montou uma milícia taliban para combater o Exército americano, planeou um ataque ao Ministério do Interior do Paquistão onde morreram 31 pessoas e organizou o rapto de dois engenheiros chineses. Em contrapartida, o Exército norte-americano manteve sob a sua guarda cerca de 150 inocentes, que apesar de nunca terem sido objecto de queixa ou acusação foram sujeitos a anos de interrogatórios por suspeita de terrorismo. Eram predominantemente afegãos ou paquistaneses – agricultores, motoristas, cozinheiros – que foram capturados em zonas de conflito, ou por engano ou simplesmente por estarem no sítio errado à hora errada. Por exemplo, um operador de câmara de estação Al-Jazira, que cumpriu seis anos de detenção até ser libertado por falta de provas (e regressar ao trabalho na mesma organização). Um paquistanês foi preso na fronteira com o Afeganistão em 2001 e enviado para Guantánamo, onde ao fim de sete meses se percebeu que tinha sido capturado por acaso ao voltar a casa do funeral de um familiar. Ainda assim, os Estados Unidos mantiveram-no mais dois anos na prisão, na expectativa de obter informação sobre caminhos secretos usados pelos taliban. Os vários jornais que tiveram acesso aos documentos da WikiLeaks concordam que os relatórios demonstram como os procedimentos para avaliar as ligações de 700 indivíduos detidos em Guantánamo a organizações terroristas eram “inconsistentes e questionáveis”. Ao longo dos anos, os oficiais militares registaram meticulosamente toda a informação referente aos seus prisioneiros: não só as suas frases durante os interrogatórios, mas todas as suas conversas enquanto estiveram presos. E nem quando os relatórios provavam a irrelevância de toda essa informação, os detidos eram libertados – pelo contrário, em nome da “eficácia” do programa, continuavam a ser submetidos a vigilância apertada. Do total de 700 processos analisados, só 220 dizem respeito a indivíduos categoricamente reputados como “extremistas perigosos”, enquanto 380 eram considerados “de menor interesse”. Entretanto, 604 prisioneiros já abandonaram o campo de detenção (transferidos para outras prisões, deportados ou libertados), enquanto 172 suspeitos ainda continuam em cativeiro. Na população de Guantánamo constam actualmente 130 homens cuja eventual libertação ainda é classificada como uma “ameaça de alto risco” para a segurança nacional pela Administração, que se recusa a libertá-los. No entanto, essa mesma classificação não impediu a saída de um terço dos 600 prisioneiros transferidos da ilha. Como aponta o jornal “The New York Times”, um dos factores que mais pesava para a libertação de detidos era a nacionalidade, com os europeus e os sauditas a serem repatriados de forma mais expedita do que, por exemplo, os iemenitas. A Casa Branca reagiu imediatamente à divulgação dos documentos, considerando a decisão da WikiLeaks em publicar “infeliz” e “despropositada” e sublinhando que as avaliações realizadas durante a presidência de George W. Bush foram posteriormente revistas pela Administração Obama.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque prisão cativeiro rapto