Bin Laden: Ele “odiava mais os inimigos do que amava os filhos"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.099
DATA: 2011-05-05
SUMÁRIO: Acreditava que tinha uma missão e por causa dela, abdicou de uma vida de privilégio. Queria que todos os muçulmanos vingassem a sua morte. Conseguiu ser morto por uma bala mas dificilmente deixará o legado com que chegou a sonhar.
TEXTO: Um dia, Osama bin Laden convocou uma reunião com os seus combatentes e quis que todos os filhos estivessem presentes. A família vivia em Kandahar, o berço do movimento taliban, no Sul do Afeganistão, numa casa sem electricidade onde a comida escasseava, rodeada por outras casas simples habitadas por leais seguidores. “A palestra foi a respeito das alegrias do martírio, de como era a maior das honras para um muçulmano dar a vida pelo islão”, conta Omar bin Laden (“A minha vida com Osama bin Laden”, ASA). “Quando a reunião acabou, o meu pai chamou os filhos, incluindo os mais novos. […] Estava, o que era raro, de bom humor. […] Depois de nos termos sentado no chão, formando um semicírculo aos pés dele, continuou: ‘Ouçam, meus filhos, há um papel afixado na parede da mesquita. Esse papel é para homens que sejam bons muçulmanos, homens que se ofereçam para ser bombistas suicidas. ’ Olhou para nós com um brilho de expectativa nos olhos”, descreve Omar. Primeiro, nenhum dos rapazes se mexeu. Osama repetiu o que tinha dito e Omar viu um dos irmãos mais novos sair a correr em direcção à mesquita. Foi aí que percebeu que o pai “odiava mais os seus inimigos do que amava os filhos”. “Como nos pode pedir uma coisa dessas?”, perguntou-lhe indignado. “Omar, precisas de saber isto. Não ocupas mais lugar no meu coração do que qualquer outro homem ou rapaz deste país. Isso é igual para todos os meus filhos”, respondeu Osama. O episódio relatado por Omar passa-se em 2001, meses antes dos atentados que levariam Osama a sair das trevas para se tornar num dos rostos mais conhecidos do mundo. Já era o “inimigo número um” dos Estados Unidos, assim declarado pelo Presidente Bill Clinton depois do primeiro atentado contra o World Trade Center, em 1993. Mas a maioria dos milhões que, um pouco por todo o mundo, passaram a ver nele a “face do mal” (“o diabólico”, como lhe chamou o Presidente George W. Bush) ou a última esperança de líder para a “umma” (a nação muçulmana), capaz de resgatar o esplendor e a importância do islão no mundo, ainda não sabiam sequer que ele existia quando decidiu convidar os filhos a cometer martírio. Um boi e uma melanciaOs Bin Laden são originários de Hadhramaut, uma região mágica do Iémen, com deserto, oásis, penhascos e construções de alturas e localizações impossíveis. Milagres, acasos e lendas que marcam a saga da família. Por exemplo: ameaçado de morte por causa de um empréstimo que pediu para comprar um boi e não conseguiu pagar devido à morte precoce do animal, Awahd, o avô de Bin Laden teve de mudar de planalto e recomeçar. Foi na nova casa, em Wadi Doan, que nasceu o pai de Osama, Mohamed. Sobre Wadi Doan há uma lenda que Steve Coll descreve no seu “Os Bin Ladens – Uma família árabe no século americano”: “Uma raça de gigantes destruiu as pedras do abismo até Deus se ter ofendido com a sua arrogância e a ter destruído através de uma tempestade de areia. Isto pode explicar a espantosa arquitectura: amontoados de encontro às paredes de pedra, erguem-se os gigantes arranha-céus das povoações acasteladas”. Se não fosse o boi talvez a vida dos Bin Laden tivesse seguido outro caminho. E se Awahd não tivesse morrido quando Mohamed tinha apenas onze anos, talvez este não se tivesse decidido a deixar para trás Hadhramaut e os seus penhascos e a tentar a sorte em Jidá. Mohamed e o irmão iam morrendo de fome para lá chegar: perdidos no deserto, depois de uma violenta tempestade, descobriram uma quinta e ali uma melancia que comeram, sentindo-se renascer, conta Coll. Jidá era “um porto varrido pelas doenças, sem uma única rua pavimentada”. Mas para Mohamed, que vira “os orgulhosos arranha-céus” de Wadi Doan, construídos por gente que fizera “fortuna em todo o tipo de locais improváveis”, era “um lugar cheio de oportunidades”.
REFERÊNCIAS: