Poderá o disco rígido de Bin Laden ajudar a combater a Al-Qaeda?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.29
DATA: 2011-05-05
SUMÁRIO: Chamam-lhe o verdadeiro tesouro do ataque ao complexo de Abbottabad: dez discos rígidos, cinco computadores e mais de 100 DVD, disquetes e pen drives. "Podem imaginar o que é que está no disco rígido de Osama bin Laden?", disse ao site "Politico" um responsável da Casa Branca.
TEXTO: É esse filão que agora ocupa centenas de pessoas no Afeganistão e no quartel-general da CIA, em Langley, Virginia. "À medida que retirarmos informações tomaremos decisões", afirmou ontem o attorney general (equivalente a ministro da Justiça), Eric Holder, adiantando que provavelmente serão "acrescentados nomes" à lista de suspeitos de terrorismo. Parece ser já seguro que Osama passou anos dentro do complexo em que foi morto, pelo que é expectável que tenha acumulado muita informação sobre a Al-Qaeda. Washington espera que isso inclua dados sobre os seus associados, localizações e planos. "Como seria gratificante encontrar nos ficheiros de Bin Laden alguma pista sobre o paradeiro do seu principal lugar-tenente, o médico egípcio Ayman al-Zawahri", escreveu ontem em editorial o jornal Chicago Tribune. A morte de Abbottabad foi a segunda de Bin Laden, escreveu o diário Le Monde. A primeira aconteceu em Janeiro com a revolução na Tunísia. Osama morreu, quando a mensagem da Al-Qaeda estava moribunda. Com o seu desaparecimento, a organização fica ainda mais fragilizada. Mas não morre, sobrevivendo na "marca" em que há muito se tornou - e que qualquer grupo pode reivindicar -, mas também em Zawahri, o sucessor mais óbvio, que tem os aliados mais próximos nos taliban e noutros grupos radicais paquistaneses, ou na Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA). Zawahri era o rosto e a voz da Al-Qaeda central (o que permaneceu da Al-Qaeda pré-11 de Setembro depois da perda do santuário afegão), mas não tem o carisma de Bin Laden. "Quando as pessoas se voluntariavam para a jihad, estavam a oferecer-se para serem soldados de Bin Laden, não de Zawahri", escreveu o editor da Time Fareed Zakaria. Não é um combatente, é um intelectual que nunca foi popular entre os jihadistas. Com ele na liderança, acredita John Brennan, conselheiro de Obama para o contraterrorismo, os EUA têm "muito mais oportunidades de destruir a organização e criar fracturas no seu interior". Steve Coll, jornalista e autor do livro Os Bin Laden, notou num debate na PBS que o que sabemos de Zawahri nos indica "que ele vai lutar", mas admite que o egípcio tem um percurso "de alienar colegas e comprar guerras por questões dogmáticas" que não faz dele o unificador de que a Al-Qaeda precisa agora. Zawahri é a aposta mais óbvia, mas não é a única. Muitos analistas sugerem que a morte de Osama poderá ser uma janela de oportunidade para a Al-Qaeda na Península Arábica, o único ramo fundado por membros do grupo original. Há grupos ligados à Al-Qaeda, como as Al-Shabaad da Somália, que deverão perder, já que contavam com Osama e com a Al-Qaeda central para financiamento e assistência técnica. Mas não é esse o caso da AQPA, bastante independente. Líderes com carisma"A morte de Bin Laden é boa para a AQPA, que não haja dúvidas", afirmou Jarret Brachman, conselheiro da Administração Obama, citado pela Reuters. "Vai abrir espaço para a AQPA exercer mais influência sobre a direcção futura do movimento global. " Para além de ser o único ramo da Al-Qaeda que tem tido relativo sucesso - muitos ataques falhados, como o que pretendia fazer explodir um avião americano no dia de Natal de 2009, mas com recurso a tácticas ousadas -, o grupo que desde há três anos opera a partir do Iémen tem a seu favor alguns líderes carismáticos. Um deles é o religioso Anwar al-Awlaki, nascido no Novo México e cujo assassínio Obama autorizou o ano passado - a obsessão com Awlaki por parte da Administração e dos media norte-americanos é, aliás, uma das razões que explicam a sua popularidade entre jihadistas de todo o mundo, dizem os analistas. Outro nome a ter em conta é o do próprio chefe da AQPA, Nasser al-Wuhayshi, que tem a seu favor "ser um homem que estudou com o mestre", como nota Gregory Johnsen, perito em Iémen. Wuhayshi foi assessor pessoal de Bin Laden nos anos 1990.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA