"Onde está Ai Weiwei?" Em Londres, Nova Iorque e numa prisão algures na China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-05-13
SUMÁRIO: Ai Weiwei não esteve ontem na inauguração da sua instalação junto à Somerset House, em Londres, tal como não estará hoje na abertura da exposição na Lisson Gallery, a mais importante sobre a sua obra realizada até hoje no Reino Unido. O mais famoso artista chinês da actualidade está preso na China - em parte incerta e sem direito a advogados ou a contactos com o exterior - desde o dia 3 de Abril.
TEXTO: "É terrível montar a exposição na ausência de Ai Weiwei", desabafou, no The Guardian, Nicholas Logsdail, director da Lisson Gallery. Logsdail conta que a última conversa que teve com o artista foi em Janeiro, em Pequim. Weiwei, feroz crítico do regime chinês, que estivera em prisão domiciliária e fora entretanto libertado, estava preocupado com a eventualidade de não conseguir sair do país para as exposições que tinha agendadas nos Estados Unidos e na Europa. Os receios tornaram-se realidade, mas nem os colaboradores de Ai Weiwei na China nem as galerias ocidentais desistiram: na semana passada inaugurou em Nova Iorque a escultura pública Circle of Animals/Zodiac Heads (semelhante à que inaugurou ontem na Somerset House), e ontem e hoje acontecem as inaugurações em Londres. Mais: a Tate Modern exibe uma mensagem onde se lê "Libertem Ai Weiwei", a galeria Neugerriemschneider, em Berlim, inaugurou uma exposição do artista e colocou na fachada um pano com a pergunta "Onde está Ai Weiwei?", e em Paris, na segunda-feira, o artista britânico Anish Kapoor inaugurou no Grans Palais uma escultura monumental, intitulada Leviathan, e dedicou-a a Ai Weiwei, ao mesmo tempo que apelava aos museus e galerias de todo o mundo para fecharem um dia em protesto contra a detenção do artista chinês. Serão estes protestos eficazes? João Fernandes, director do Museu de Serralves, no Porto, e Pedro Lapa, director do Museu Berardo, em Lisboa, têm muitas dúvidas sobre a eficácia deste tipo de acções. "Não podemos deixar de nos sentir revoltados. Mas julgo que a China é mais sensível a argumentos mais pragmáticos", diz João Fernandes ao PÚBLICO. "Acho que todos os que têm qualquer relação económica com a China, que colaboram com o sistema oficial de arte e cultura, deviam sistematicamente confrontá-la com a questão do Ai Weiwei, que é escandalosa. " Como? Não indo à China, por exemplo. "Se fosse convidado, não iria a um país que tem um artista na prisão", afirma. João Fernandes deixa uma pergunta: "A China terá um pavilhão na Bienal de Veneza quando tem um artista preso? É espantoso que o mesmo mundo que atribuiu o Nobel da Paz a um dissidente [Liu Xiaobo] se mexa agora tão pouco. "Pedro Lapa assinou uma petição, subscrita por vários artistas e curadores, de apoio ao artista chinês, mas diz ter consciência de que "serve para muito pouco", sobretudo porque "estamos a lidar com uma ditadura tenebrosa, que conta com a escandalosa complacência do mundo ocidental". O que poderia, então, ser eficaz? "Talvez uma acção conjunta por parte, por exemplo, dos ministros da Cultura de toda a Europa. Seria preciso uma acção política, com boicotes muito efectivos. "Mas, para já, o que há é a mobilização da comunidade artística - ontem em Londres, artistas, directores de galerias e académicos juntaram-se na Somerset House para ouvirem ler textos de Ai sobre a liberdade de expressão. Na Lisson Gallery, os responsáveis colocaram uma fotografia gigante do artista e os visitantes podem ser fotografados com um sinal dizendo "libertem Ai Weiwei". E há, claro, o próprio trabalho de Ai - as doze cabeças de animais do zodíaco em bronze agora no exterior da Somerset House, réplicas de esculturas feitas no século XVIII pelo jesuíta Giuseppe Castiglione para os jardins de um imperador da dinastia Qing, e que foram pilhadas por tropas francesas e inglesas no século XIX, acabando por aparecer em leilões de colecções ocidentais, como a do estilista Yves Saint Laurent. E, na Lisson Gallery, um conjunto de vídeos e esculturas que, escreve o crítico de arte Adrian Searle no Guardian, são "belos e assombrados, assombrados sobretudo pela ausência de Ai" - duas cadeiras vazias, um caixão vazio, longos vídeos de ruas de Pequim, vazias, uma câmara de vigilância praticamente igual (só que em mármore branco) às que Ai tinha no exterior do seu estúdio e através das quais era vigiado pelas autoridades chinesas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura prisão comunidade chinês