Trabalhar menos horas e mais anos num país de velhos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.144
DATA: 2011-05-15
SUMÁRIO: O país vai envelhecer e perder habitantes, independentemente de todas as medidas que se possam adoptar para contrariar o fenómeno.
TEXTO: Assim, o melhor é começar já a pensar em diferentes formas de organização social, sugerem vários demógrafos ouvidos pelo PÚBLICO a propósito das mais recentes projecções da ONU que apontam para um Portugal reduzido a 6, 7 milhões de habitantes em 2100. Menos quatro milhões do que os actuais 10, 6 milhões. Pelo menos no tocante ao envelhecimento, a fecundidade e a imigração o melhor que podem fazer é abrandar ligeiramente o ritmo de um processo "inelutável", segundo Maria João Valente Rosa. "Pensar que o envelhecimento pode ser evitado é uma ilusão", avisa a demógrafa, para quem, mais do que verificar a iminente falência de um modelo pensado para uma população com uma estrutura etária jovem, o país já devia estar a pensar em alternativas. "As barreiras que existem baseadas na idade e que levam a que a primeira fase da vida seja dedicada à formação, a segunda - a chamada idade activa - a jornadas de trabalho muito intensas e a terceira à reforma e ao lazer estão totalmente desfasadas", diz. Soluções? "Por que não dedicar mais tempo da idade activa ao lazer, à formação e à família, até porque é nessas idades que os filhos são pequenos, compensando depois com um prolongamento do período de actividade até idades mais avançadas?", pergunta. Nas projecções da ONU, o peso da população com 65 ou mais anos de idade duplica em 90 anos: dos actuais 17, 9 para 30, 6 idosos por jovem até 15 anos. Isto acreditando que, em média, cada mulher em idade fértil terá 1, 99 filhos, em vez dos actuais 1, 32. Mas o cenário pode piorar. Se a natalidade se mantiver no valor actual, o peso dos indivíduos com 65 ou mais anos sobe para 41, 2 por cento. Nestas projecções, que não contemplam o saldo migratório, a população portuguesa entra em declínio já a partir de 2015. Com um saldo natural que, em 2009, atingiu valores negativos e um saldo migratório a ameaçar entrar também no vermelho (há autores que asseguram que isso já aconteceu, apesar de essa realidade não surgir ainda espelhada nas estatísticas oficiais ), Jorge Malheiros, professor no Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa, concorda que o país precisa de assumir que não conseguirá evitar o envelhecimento: "Vamos envelhecer inevitavelmente e é bom que metamos isso na cabeça", diz. Sem dramatismos. "É sinal que vamos viver mais tempo e o importante é que não andemos todos com Parkinson e Alzheimer mas que consigamos manter uma vida activa e produtiva". Não, não significa que as reformas devam ser adiadas até aos 75 anos, mesmo que, nas projecções, a esperança de vida ultrapasse os 87 anos em 2100 (90, 4 anos no caso das mulheres). "A transição da vida activa para a inactiva não deve ser brusca. Pode haver um período de transição, em que as pessoas começam a trabalhar progressivamente menos, o que permite diminuir a dependência, quer para as finanças públicas, quer a nossa", sugere. Valente Rosa arrisca dizer que "o mais natural será as pessoas passarem a ter várias carreiras e actividades ao longo da vida". Soberania enfraquecida
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU