A ressurreição de Passos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-24
SUMÁRIO: Muito boa gente associou a suposta vitória de Passos Coelho no debate com José Sócrates à confrontação entre um programa com ideias e uma série de ideias incapazes de constituir um programa. Mas desenganem-se os que protestam, com razão, contra o espectáculo da política formal.
TEXTO: Passos ganhou porque foi finalmente capaz de dialogar em pé de igualdade com o seu adversário, sem se remeter à subalternidade que se viu no debate com Paulo Portas ou à condescendência que exibiu no confronto com Jerónimo de Sousa. Se o PSD parece estar a subir nas sondagens não foi por causa da excelência ou convicção do seu programa, mas apenas porque Passos Coelho foi finalmente capaz de se assumir como um líder, de mostrar que é suficientemente resistente para aguentar as pressões e de manter sob pressão um adversário inteligente e experimentado como Sócrates. Diz quem o conhece que o Passos que impôs a primeira derrota (ainda que por pontos, não por KO) a Sócrates em debates na TV é o verdadeiro Passos. Que as suas anteriores prestações hesitantes e até medrosas não lhe revelavam a personalidade nem a firmeza. Mas, a bem dizer, o líder do PSD foi-nos permitindo avaliar a sua têmpera em muitos episódios do último ano. Quando geriu com nervos de aço a crise da aprovação do orçamento, quando anunciou o chumbo do PEC IV a um país e a uma Europa estarrecidos com a escalada dos juros da dívida, ou até quando apresentou ao país o programa mais radicalmente liberal e de direita da história do seu partido. Durante todos estes momentos, porém, o que lhe terá sobrado em coragem faltou-lhe em convicção e em poder de comunicação. No debate com José Sócrates, Passos pôde finalmente combinar essas duas facetas e aparecer junto do eleitorado como um político que, afinal, não é tão mole como se pensava, que teve até o condão de pôr um dos mais temíveis animais políticos da história da democracia em Portugal, José Sócrates, em sentido. Num ápice, essa ressurreição de Passos Coelho parece ter sido capaz de convencer boa parte dos eleitores hesitantes de que o PSD pode, ao menos, merecer o benefício da dúvida. Face a esta revelação, Sócrates deixa de ser aquele que, “ao menos sabe o que quer e para onde vai”. Passos pode agora disputar essa bandeira. A eleição não está ainda decidida, mas, ao contrário do que muitos supuseram, o debate entre Passos e Sócrates pode ter sido o mais decisivo desde o que opôs Guterres a Fernando Nogueira já lá vai década e meia.
REFERÊNCIAS: