Estará a Itália finalmente pronta para "acabar com a era Berlusconi"?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-05-29
SUMÁRIO: A cidade de onde o primeiro-ministro partiu para conquistar o país pode estar prestes a dizer-lhe "basta". Se isso acontecer, a Itália dificilmente continuará igual.
TEXTO: Silvio Berlusconi já fizera das eleições municipais de Milão um referendo à sua governação. Mas na campanha para a segunda volta, hoje e amanhã, conseguiu subir a parada: esteve numa só noite em cinco televisões (o que valeu a todas multas pesadas); não parou de agitar a ameaça da "extrema-esquerda" e garantiu que o candidato da oposição à câmara vai transformar a cidade numa "ciganopolis". É Berlusconi igual a si próprio. Quando acossado, dispara para todos os lados, ataca tudo e todos. E poucas vezes "Il Cavaliere" se terá sentido tão encurralado. Primeira prova nas urnas desde que foi acusado de prostituição de menores e abuso de poder ("Rubygate"), e desde que recomeçou a ser julgado por corrupção e suborno, a primeira volta das eleições municipais e regionais, há duas semanas, dificilmente lhe poderia ter corrido pior. A votos foram 1300 autarquias e 11 províncias. Os prémios grandes eram Milão, onde a direita enfrenta pela primeira vez em 15 anos uma segunda volta (e parte em desvantagem); Nápoles, onde a esquerda concorre dividida e a direita não conseguiu mesmo assim vencer à primeira (mas ficou à frente); Turim e Bolonha, que o centro-esquerda já reconquistou. No conjunto do país, o Povo da Liberdade (PdL), do primeiro-ministro, conquistou 28, 7 por cento dos votos, a mesma percentagem do PD (Partido Democrático, líder da oposição), mas menos 10 pontos do que nas últimas municipais, em 2006. Milão é de Berlusconi. Foi ali que se lançou nas televisões privadas e na construção de subúrbios de luxo, antes de se tornar no homem mais rico de Itália e no chefe do Governo mais resistente do pós-guerra. Foi em Milão que criou o seu partido e é nos arredores da capital económica do país que vive, em Arcore (hoje sinónimo de festas bunga-bunga, as tais onde Berlusconi é acusado de ter tido sexo com a dançarina Ruby Rubacuori quando esta era menor). O primeiro-ministro é cabeça de lista do PdL na cidade e perdeu metade dos votos que conquistara há cinco anos. Berlusconi sabe o que está em jogo. Antes da primeira volta dissera que a direita tinha de ganhar "para fortalecer o Governo nacional". Perder Milão, afirmou, era "impensável". Quanto à sua própria votação, brincou que ter menos do que os 53 mil votos de 2006 seria o seu "funeral político". Berlusconi já sobreviveu a muito e a notícia da sua morte política já foi por mais de uma vez exagerada. Quando perdeu o apoio de Gianfranco Fini, por exemplo, que unira a Aliança Nacional à Força Itália para formar o PdL. Fini levou deputados e senadores para o seu novo grupo político, mas "Il Cavaliere" refez a maioria no Parlamento (a oposição acusou-o de ter comprado e chantageado deputados). Mito e realidadeO mito Berlusconi é poderoso, mas pode estar prestes a desvanecer-se. "O voto de Milão abala a lenda do "Cavaleiro" capaz de vencer qualquer batalha, até a mais desesperada, com a sua própria força", escreveu Ugo Magri no La Stampa depois da primeira volta. A realidade é mais complexa. Berlusconi teve sempre aliados: para além de Fini, a Liga Norte, partido radical, secessionista e xenófobo. E o facto de ter contado com uma oposição que não conseguiu oferecer uma alternativa credível desde a derrota de 2008 (após dois anos de Governo de Romano Prodi) não é menos relevante. Os escândalos deixaram Berlusconi com a popularidade mais baixa de sempre (33 por cento). O corte com Fini tornou-o ainda mais dependente da volátil Liga Norte. Mas de nada valeriam se não fosse Giuliano Pisapia, o candidato do centro-esquerda à Câmara de Milão. Escritor e advogado, por duas vezes eleito deputado independente nas listas da Refundação Comunista, decidiu concorrer às primárias do PD em Milão, contra o candidato do partido e contra sondagens que lhe davam quatro por centro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra homem prostituição sexo abuso