Racional, gestor, tímido, barítono: Pedro Passos Coelho é um líder natural
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.2
DATA: 2011-06-18
SUMÁRIO: Usa a voz, a pose e as ideias controversas para se afirmar, e é, dizem os amigos, um gestor: sabe transformar os defeitos em qualidades. Vêem nele um líder natural. Perfil publicado originalmente a 9 de Abril de 2010.
TEXTO: Ele é forreta. Nisso os amigos estão de acordo. É agarrado ao dinheiro. Não à maneira de Manuela Ferreira Leite, que era a "dona de casa". Ele é mais do género de ir para a farra com os amigos. Já tinha esse hábito nos anos 80, quando era líder da JSD. Iam para a Adega do Ribatejo, no Bairro Alto, comer e beber até às tantas. Ele e Miguel Relvas e outros companheiros, nem todos da política. Gastavam o dinheiro todo e depois não chegava para o táxi. Iam para casa a pé. Mas valia a pena. Passos conversava muito, comia sopa de cenoura com feijão, bebia vinho tinto e cantava o fado. Por vezes à desgarrada, com outros cantores da fauna local, como era o caso de Quinzinho de Portugal, de quem ainda hoje é amigo. Tal como é ainda amigo de Relvas e dos outros. Era uma época de pândega, mas também de uma maneira diferente de viver a política: mais autêntica, mais afectiva. Forjavam-se relações e solidariedades políticas que perduravam, para além das conveniências de momento ou de divergências conjunturais. Passos entrou para a JSD por causa de um campeonato de cartas. Naquele ano de 1978, estava em Vila Real e era Verão, o que significava três meses de tédio. Não havia praia, não havia piscinas, não havia nada para fazer. Pedro tinha 14 anos. Aos 12, tinha ido a Lisboa participar num congresso da UEC (União dos Estudantes Comunistas). Mas não se divertiu. Não se conversava o suficiente, as pessoas pareciam ter todas a mesma opinião. Na JSD, tudo parecia ser mais interessante. Pedro sempre gostou de conversar. Em Angola, onde viveu entre os 5 e os 10 anos, costumava "infiltrar-se" nas conversas do pai, no palácio do governador do Bié. O pai, médico, era director do Serviço de Saúde e tinha por hábito falar com os amigos sobre a situação do país, os problemas do mundo. Numa altura em que a asfixia na metrópole era verdadeiramente antidemocrática, em Angola podia-se falar com relativa liberdade. Pedro, com 7 anos, gostava mais de ouvir as conversas sérias do que de brincar. Sempre foi assim: fazia tudo antes de tempo, ou depois de tempo. Aos 21 anos, foi viver com uma cantora das Doce, Fátima Padinha, por quem estava apaixonado, sem ter casado com ela. Ainda sem estar casado, teve a primeira filha. Depois foi trabalhar antes de terminar o curso. Não entrara em Medicina porque, para ficar próximo da política, não quis concorrer para longe de Lisboa. Matriculou-se em Matemática. Depois tornou-se deputado em vez de consolidar a carreira profissional. Só regressou à faculdade, para estudar Economia, depois dos 30. Andou para trás e para a frente, fez tudo ao contrário do que era esperado. "Não pelo prazer de ser do contra", diz ele. Mas a verdade é que até as causas que escolheu foram sempre as que poderiam provocar a discórdia. Como, na JSD, a recusa do serviço militar obrigatório, das propinas ou da penalização das drogas leves, o que irritava os líderes do partido. Liberal nos costumesÉ próprio da sua geração ser liberal em relação aos costumes. O casamento gay ou o aborto não podem ser tabus para quem cresceu já depois do 25 de Abril. É uma questão de modernidade, de civilização, como explica o seu amigo Vasco Rato. Não é possível ficar para trás no tempo. Mas, no caso de Passos Coelho, todo esse liberalismo surgiu mais por aggiornamento do que por formação, acha outro grande amigo, Ângelo Correia. No âmago, é um conservador, como bom transmontano que é. Seja como for, Passos esgrimiu com convicção as "causas fracturantes". Não deverá fazê-lo agora, pensam os amigos. Há outras mais importantes.
REFERÊNCIAS: