Strauss-Kahn declara-se inocente e abre caminho a julgamento
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-07-01
SUMÁRIO: Texto publicado originalmente na secção Mundo do jornal, no dia 07/06/2011A estratégia da defesa já o fazia prever, e o francês Dominique Strauss-Kahn confirmou-o de viva voz. "Inocente", disse o ex-director-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), quando ontem, no Supremo Tribunal de Nova Iorque, foi confrontado com as acusações de crimes sexuais que o levaram à cadeia. A declaração de inocência, feita em inglês, seguiu-se à leitura da acusação pelo juiz Michael Obus e abre caminho a julgamento.
TEXTO: A audiência de ontem marca o início do que pode ser um moroso processo legal e um julgamento por um júri, em que Strauss-Kahn incorre numa pena de até 25 anos de prisão por sete acusações que incluem tentativa de violação, abuso sexual e sequestro de uma empregada de hotel. A próxima sessão foi marcada para 18 de Julho, data em que poderá ser marcado o início do julgamento. Até lá, segundo o diário “Le Monde”, as partes deverão trocar documentos e provas. Caso se tivesse declarado culpado, o que seria uma surpresa, face às repetidas declarações de inocência dos seus advogados e do próprio, Strauss-Kahn poderia negociar uma redução da pena. Essa possibilidade mantém-se, mas não parece fazer parte da estratégia da defesa. Na carta de demissão do FMI, que se seguiu à detenção, DSK, como é conhecido em França, rejeitara já "com a maior firmeza" as acusações de crimes sexuais. Aquele que era, até há poucas semanas, um dos homens mais influentes do mundo, chegou ao tribunal de fato e gravata azuis-escuros, de braço dado com a mulher, a jornalista Anne Sinclair. De acordo com a descrição das agências noticiosas, passou por dezenas de repórteres e de trabalhadoras de hotel vestidas com farda de empregada de quarto, que lhe gritaram: "Envergonhe-se". Os protestos, promovidos por uma organização sindical, prolongaram-se durante a audiência e podiam, segundo a AFP, ouvir-se na sala onde decorreu a audiência, no décimo segundo andar do tribunal. "Ela é nossa irmã, nós apoiamo-la", explicou à Reuters Peter Ward, da New York Hotel Workers Union. A audiência de ontem, numa sala repleta de jornalistas, principalmente franceses, durou apenas sete minutos, ainda que Strauss-Kahn tenha permanecido no edifício do tribunal durante cerca de uma hora. Foi a terceira vez desde a detenção, a 14 de Maio, que, acompanhado pelos seus dois advogados, esteve perante o juiz. O antigo homem forte do FMI, de 62 anos, saiu de mão dada com a mulher, de regresso à luxuosa residência do Sul de Manhattan em que está, sob prisão domiciliária, com pulseira electrónica e sob vigilância permanente. No exterior do tribunal, tendo a imprensa como intermediário, os advogados esgrimiram argumentos e deram indícios sobre a sua estratégia. Um dos defensores de DSK, Benjamin Brafman, disse que a declaração de inocência foi "forte e eloquente" e que "vai ficar claro que não há indícios fortes de [que a mulher] que tenha sido forçada" a ter relações sexuais. A afirmação foi vista como uma resposta a um dos advogados da empregada de hotel, Kenneth Thompson, que considerou "absurda" a alusão de que a mulher tivesse mantido relações sexuais de livre vontade. "É uma mulher digna e respeitável", que foi vítima de uma "agressão sexual terrível", declarou. "A vítima deseja que saibam que todo o poder, dinheiro e influência de Dominique Strauss-Kahn não impedirá [que se apure] a verdade sobre o que fez nesse quarto de hotel", disse, segundo a AFP. Caso se concretize o julgamento, a mulher testemunhará contra ele, garantiu. Benjamin Brafman, uma estrela da barra dos tribunais, está, contudo, optimista. "Não posso por agora entrar em detalhes, mas estou confiante, não acho que o senhor Strauss-Kahn seja culpado dos factos que lhe são imputados, e prevejo que será libertado", disse no fim-de-semana à estação televisiva francesa M6. Acusado de ataques sexuais a uma imigrante africana de 32 anos, empregada do luxuoso Hotel Sofitel, em Manhattan, Dominique Strauss-Kahn foi detido pela polícia a bordo de um avião da Air France quando se preparava para deixar Nova Iorque a caminho de Paris. O antigo ministro francês, um dos homens mais influentes do mundo, devido ao cargo no FMI, era considerado um forte candidato à Presidência da República nas eleições do próximo ano.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE