A "geração Morangos" e a morte do artista
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-04
SUMÁRIO: Na parede junto ao balcão do bar Porão de Santos está afixada a lista dos shots: Bacanal, Orgia, Orgasmo, Broche, Chupa no Grelo. Todos à base de vodca, rum e gim. São duas da manhã e, dentro e fora do bar, nas mesas da esplanada ou de pé à porta, há dezenas de jovens de 15, 16 anos. Alguns notoriamente mais novos. Os rapazes de cabelos compridos e penteados complicados, as raparigas de saltos altos e roupas exíguas.
TEXTO: O empregado sai com uma bandeja cheia de shots para uma mesa. Ele, a decoração do bar, a zona onde está situado - o Largo de Santos, junto ao teatro A Barraca e ao bar Estado Líquido - não se parecem nada com os cenários da série Morangos com Açúcar. Os jovens, sim. Os cabelos, as roupas, os gestos, os tiques de linguagem, tudo parece copiado da série da TVI. "São péssimos, mas eu adoro", diz Mafalda, 19 anos, a respeito dos "Morangos". É estudante, tal como as três amigas que a acompanham, todas entre os 18 e os 19 anos - Francisca, Inês e Teresa. "Não representam a nossa geração. " Quer dizer, talvez representem, mas "representam mal", corrige. "O povo real, a juventude, não são assim. Aquilo são maus actores, e as histórias não dão bons exemplos. "As quatro amigas enumeram as críticas, embora conheçam de cor todas as personagens e episódios. "É sexo atrás de sexo", diz uma. "A minha mãe proibia-me de ver. É mau exemplo. " Outra tem a comentar que as histórias são pobres e sempre iguais, o que se deve à escassez de actores e personagens. "Devia haver mais", sugere. "Dantes era melhor", diz outra. Todas admitem que adoravam quando eram mais novas. Aos 12, 13 anos, não perdiam um episódio. Identificavam-se. Agora já não. "As personagens só pensam em sexo. Miúdas de 16 anos a fazer sexo. " Acham mal, não gostam, não se sentem identificadas. Mas vêem. "São momentos de estupidez nos intervalos do estudo", explica uma. "Talvez no Seixal as pessoas se identifiquem mais. "Encontram outro grupo que desce a rua que vem do Largo do Conde-Barão, onde várias lojas de conveniência decidiram vender bebidas alcoólicas e se transformaram em bares de rua. Aqui, na Avenida D. Carlos I e na subida da Rua das Janelas Verdes, há milhares de jovens na rua, dentro ou à porta dos bares, em grupos barulhentos, circulando de um lado para o outro, muitos visivelmente embriagados, à medida que nos aproximamos das 3, 4 da manhã. No interior de alguns carros, estacionados em locais estrategicamente pouco visíveis mas de onde se pode ver bem a zona, alguns homens de meia-idade esperam pacientemente. Pelo ar aborrecido vê-se que não são pedófilos, nem polícias à paisana tentando identificar os bares que vendem álcool a menores. São pais que esperam que os filhos terminem a noitada, enquanto os vigiam mais ou menos discretamente. "Aquilo é ridículo. Os alunos da escola todos a dançar. Ninguém faz isso. Nas escolas da vida real as pessoas não passam a vida a dançar. " Sofia e Madalena têm 16 anos. Dizem que viam e gostavam dos "Morangos" quando tinham 11, 12 anos. "Agora é só gays, maricas, ordinarices. " Juntam-se três rapazes, José, Diogo e David, de 19 anos, estudantes do 1. º ano de Direito. Concordam com as amigas quanto à parte dos "gays e ordinarices". Viam a série quando eram mais novos. "Foi importante para todos nós. Eles era como se fossem nossos amigos. Além dos nossos amigos reais havia também aqueles, não fazíamos distinção. "Não gostavam dos D"zrt, a banda criada pelos produtores dos "Morangos" que depois saltou para a vida real e de que fazia parte Angélico. Mas ouviam, e foram a concertos. "A música não era má. Eu reconheço que era boa música", diz José, dividido entre uma certa obrigação de denegrir a "cultura Morangos" e a necessidade pessoal de defender a série e a música com as quais cresceu. "Eles levavam muita gente atrás, não há dúvida. " Ao contrário dos amigos, que ambicionam apenas ser advogados, José pertence à Juventude Popular e não descarta a possibilidade de vir a "servir o país", se necessário. No bar Refúgio das Freiras está tudo a dançar, incluindo as empregadas atrás do balcão, tão jovens como os clientes. As bebidas aqui têm um nome que não engana: balde. Balde de Cerveja, Balde de Vodca, Balde de Caipirinha. A porta está guardada por dois seguranças que não perguntam a idade a ninguém.
REFERÊNCIAS:
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