Hoje nasce o Público Mais
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-21
SUMÁRIO: O PÚBLICO é há mais de 20 anos um jornal de referência em Portugal e no mundo de língua portuguesa, um jornal reconhecido pela qualidade do seu jornalismo e pela sua independência. E está — tal como os grandes jornais internacionais — a viver o impacto da mudança de hábitos dos leitores em todo o mundo ocidental.
TEXTO: Hoje, o leitor acorda e vê rapidamente as notícias no telemóvel, chega ao trabalho e acompanha a actualidade ao longo do dia, ouve um noticiário no carro a caminho de casa, vê televisão depois do jantar e faz novo radar às notícias nos sites antes de ir dormir. Pelo caminho, vai recebendo alertas de última hora no telefone e, se estiver a viajar, descarrega o seu jornal em PDF. O que sobra para ler no jornal impresso que no dia seguinte está à venda no quiosque?Na verdade, muito. O jornalismo tem mil definições. Há 15 anos que o think tank americano Committee of Concerned Journalists desenvolve um fórum contínuo com jornalistas de costa a costa para tentar fixar a essência do jornalismo. O resultado da pesquisa é o retrato perfeito desta profissão: o compromisso com a verdade é o principal propósito do jornalismo; a sua primeira lealdade é para com os cidadãos; a verificação é a essência da sua disciplina; a independência em relação às pessoas tratadas nas notícias é estrutural; o jornalismo serve de indicador para as pessoas e instituições com poder; dá aos cidadãos um fórum de crítica e compromisso; torna interessantes as coisas importantes; e dá às notícias contexto e proporção. Só falta acrescentar uma coisa: isto custa muito dinheiro. Só uma redacção forte, experiente e com jornalistas especializados conseguirá dar resposta a este conjunto de fundamentos. Hoje, com a velocidade, quantidade e superficialidade da informação — tantas vezes frustrantemente monocórdica e repetitiva —, os jornais de referência são ainda mais cruciais. A crescente falta de meios suscita aliás o risco — ou até a tentação — de descaracterizar a matriz original dos jornais. Cada um escolherá ler, ver ou ouvir os conteúdos na plataforma — e na máquina — que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro. São os jornais de referência que escrutinam, fiscalizam e verificam; que aprofundam, analisam e contextualizam o nosso país e o mundo; que hierarquizam e dão a proporção certa ao que se passa à nossa volta; que investem tempo e dinheiro numa reportagem na Somália e numa investigação sobre o que polui o estuário do Tejo. E, por isso, são os jornais de referência que geram a maioria das notícias que, uma vez publicadas, alimentam rádios, televisões e sites, para não falar dos blogues, do Google, do Twitter ou do Facebook. O escândalo das escutas no Reino Unido e a cultura que parece existir nos tablóides de Rupert Murdoch mostram preto no branco o papel vital do jornalismo de qualidade, independente, que não serve interesses, observa a realidade, procura respostas, descobre algumas, verifica todas e organiza a informação para o público. Alguém dizia há uns anos, entre o oceano de presságios pessimistas, que os jornais de qualidade, tal como as grandes cidades, não vão mudar de lugar. Ou seja, vão continuar a definir a agenda dos seus países. Nós acreditamos nisso. A venda de jornais no Ocidente, porém, está a cair 10% por ano, ano após ano, desde 2007. Há apenas cinco anos, o PÚBLICO vendia acima de 50 mil exemplares por dia; hoje, vendemos 30 mil. Nos últimos meses, desapareceram do mercado português mais de seis mil compradores de jornais diários. Aos novos hábitos juntam-se agora os efeitos da crise. O problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas sobem, o jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura