Todos por Amy
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-24
URL: https://arquivo.pt/wayback/20110724150638/http://www.publico.pt/Cultura/todos-por-amy_1504429
SUMÁRIO: Conhece bem os hospitais, não lida bem com a fama, é aditiva e anorética, sofre depressões e tem um vozeirão. É, provavelmente, a maior estrela pop de 2007. Amy Winehouse de seu nome.
TEXTO: Nas últimas semanas, Pete Doherty, cantor rock e namorado periódico da manequim Kate Moss, perdeu para Amy Winehouse. E não foi à batota, foram as primeiras páginas dos jornais britânicos. Histórias de hospitais, curas de desintoxicação, desavenças de namorados e cancelamento de concertos são com ela. Em Inglaterra não foram os incêndios que absorveram o mês de Agosto. Foi ela. O seu problema, como o de muitas figuras trágicas da cultura pop de James Dean a Kurt Cobain é como lidar com a notoriedade. Nunca quis ser estrela. O bordel mediático é-lhe estranho. É natural que não esteja a passar um bom bocado. Há quatro anos, quando lançou o primeiro álbum, "Frank", ninguém poderia prever que seria assim. Em Portugal quase ninguém lhe ligou, tendo sido arrumada, de forma apressada, na prateleira dos cantores adolescentes que por essa altura brotavam (Norah Jones, Joss Stone, Katie Melua, Jamie Cullum) e que apelavam a um público maduro que gosta de canções jazz clássicas ou soul tranquila matizada de pop, enquanto consome caviar entre amigos. Falso jazz. Falsa folk. Falsa soul. Sem alma. Foi assim que muitos a caracterizaram, baseando-se mais nos estereótipos não é negra, nem americana, não é madura e não teve uma vida sofrida ligados à música soul do que à realidade dada pela música. E, no entanto, alguém que evitasse juízos precipitados, perceberia que Amy Winehouse não era apenas uma voz com uma sonoridade imaculadamente revisionista por trás. Apesar de ter apenas 19 anos era uma cantora de corpo inteiro. A sua voz soul tão depressa parecia falar claramente para nós, recortando cada palavra com exactidão cirúrgica, como a seguir se transformava em mais um instrumento, sublinhando o aparato sonoro à volta, composto por batidas lânguidas inspiradas no hiphop, atravessadas por motivos resgatados do jazz. Em Portugal quase ninguém lhe ligou, mas 100 mil almas no resto do mundo adquiriam um exemplar de "Frank". Depois do êxito, o silêncio. Ficou conhecida por, nas entrevistas, ser lacónica. Ou então acumular lugares-comuns. "Não me interessam, a música fala por mim", afirmava então. Desde o começo era evidente que não era uma boa jogadora do jogo da fama. Não é Madonna. É apenas uma jovem londrina, igual a tantas outras, que gosta de beber uns copos e jogar bilhar em pubs de má fama ao princípio da noite, em Camden, onde habita. Foi aí que, em 2005, conheceu Blake Fielder-Civil, o homem da sua ainda curta vida. Diz-se que foi amor à primeira tequila. É ela quem o diz: "Ele mudou-me. " Primeiro foi o exterior começou por tatuar o corpo com motivos de marinheiros e aprontou um penteado muito anos 60. Depois o interior, transformando-se numa combinação, muito temperamental e sem papas na língua, de Mae West, com Shane McGowan e Popeye, o marinheiro. Finalmente, os gostos musicais. Do jazz e hip-hop que havia assimilado na infância e adolescência (Sarah Vaughan, Thelonius Monk, Roy Ayres, Mos Def ) passou para a pop dos grupos femininos na transição dos anos 50 para os 60 Shangri-Las, Ronettes, Five Royales, Shirelles ou Chiffons. Voz é vozeirãoDepois da saída de "Frank", durante dois anos não compôs uma única canção nova. A relação com Blake teve altos e baixos. A partir de determinada altura, só baixos. Ele deixou-a. Havia que fazer catarse. Contar a história daquela relação. E ela resolveu trabalhar num novo álbum. Alguém da editora lhe propôs que se encontrasse com um jovem produtor inglês, a habitar em Nova Iorque, Mark Ronson. Ideia inteligente. Hoje em dia não tem que prestar provas a ninguém, já lhe passaram pelas mãos Christina Aguilera, Robbie Williams ou Lily Allen. Transformouse num dos produtores mais afamados do mundo. Na altura, Amy não sabia quem era. Ele também não a conhecia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura homem corpo negra cantora