Festival de Sines: Uma explosão à última noite
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-01
SUMÁRIO: O mau tempo, a crise, a aposta de agendar os nomes mais acessíveis para o primeiro fim-de-semana - tudo contribuiu para que Sines só explodisse na última noite. Ainda assim houve uma mão-cheia de surpresas.
TEXTO: Quem anteontem olhasse, lá pela uma da manhã, para um dos horários dos concertos do Festival de Músicas do Mundo de Sines e depois levantasse a cabeça para o palco ficaria certamente confuso. Oficialmente, deveria estar ali a dupla jamaicana Sly & Robbie, magos do baixo e da bateria, mas eles tinham tocado às 23h15 no lugar de Nathalie Natiembé. Desta, por sua vez, nem sinal. Tinha-se dado aquilo a que em futebol se chama a substituição perfeita: Azizs Sahmoui e os University of Gnawa, que estavam previstos para a tarde, tinham saltado para o encerramento da noite no castelo. E deram "O" concerto do festival - um festival que até aí, por melhor música que tivesse conhecido, ainda não tinha visto corpos em agitação. A música de Sahmoui, que é magrebino, baseia-se quase toda em instrumentos de cordas - das proverbiais guitarras à kora, passando por um guembri - quase sempre em duelo entre si. Rendilhados criam harmonias belíssimas, sendo que a beleza nem sequer é o cerne desta música que facilmente adquire contornos de rock explosivo. Tudo ali é acerca de intensidade, percussões que pulsam cada vez mais rápidas, linhas melódicas que crescem de força, tudo a subir rumo a uma explosão que nunca se concretiza, criando assim ainda mais tensão. Tensão que encontrou eco numa multidão, anteontem sim, em grande número, enchendo não só o castelo, mas também as zonas circundantes, como a Avenida da Praia, algo que tinha estado longe de acontecer nos dois dias anteriores. Sines estava a precisar de um concerto assim, porque o cartaz deste último fim-de-semana era tudo menos óbvio, com as opções mais acessíveis já longe no fim-de-semana anterior. Não que não tenha havido bons concertos. Na quinta-feira, Vishwa Mohan Bhatt, aluno de Ravi Shankar, ofereceu um daqueles concertos que num dia apinhado teria ficado para a história. A sua slide-guitar, um instrumento tão particular que é um híbrido criado pelo próprio, soltou faíscas durante uma hora, em movimentos de ascensão e queda de pura beleza, enquanto a seu lado o quinteto Divana Ensemble percutia como quem foge à morte. Falta de entusiasmoNo dia seguinte, sexta-feira, houve mais uma grande surpresa, as Ayarkhaan. Trio feminino vindo da Iacútia (na zona asiática da Rússia), não precisam de mais que as vozes e que o khomus, um berimbau de boca, para provocar encantamento. Não se trata de fazer canções, isto é outra coisa, música que está em directa ligação com a natureza e permanece inalterável há centenas de anos. Um concerto como o das Ayarkhaan é uma experiência quase mística e exige uma atenção rara, semelhante à pedida pela música de uma Mari Boine. Ali, entre a morrinha e a casa semicheia, o som perdia uma parte do seu encanto milenar - fenómeno que foi menos notório no concerto dos açorianos O Experimentar Na M"Incomoda, porque o seu cruzamento de electrónica com canto açoriano se revela bem dançável. A máquina, agora, parece bem afinada e seria uma pena se estes moços passassem despercebidos. Uma boa parte de alguma falta de entusiasmo - face ao habitual em Sines - com que os músicos foram recebidos na quinta e na sexta deveu-se à casa apenas semicheia e ao tempo frio. E quando não foi assim, houve tiros no pé inesperados, como no concerto dos Tuba Project, na Avenida da Praia, quinta-feira. Enquanto avançaram pelos territórios de New Orleans, ou foram ao funk e mesmo até ao hip-hop, não só cumpriram com extremo cuidado a função de fazer dançar como mereceram palmas extra pelas harmonias dos metais. Mas depois, e sem que nada o fizesse prever, resolveram enveredar pelas baladas, o que, num concerto que começa às três da madrugada, não é boa política. A aproximação ao universo de Kenny G esfriou de imediato a juventude, o que é compreensível. O grande dia
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte