60% das mulheres mantêm nome de solteira depois do casamento
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-16
SUMÁRIO: Quase tanto como o vestido da noiva, a tiara de diamantes que usou ou o facto de os noivos não terem tempo para a lua-de-mel, a decisão de Zara Phillips, 30 anos, manter o nome de solteira alimentou as notícias do rescaldo de mais um casamento real. A neta da rainha Isabel, uma desportista medalhada, quer continuar a ser tratada publicamente pelo seu apelido de sempre. Por uma razão simples: foi com ele que construiu a sua carreira no hipismo. Estranho?
TEXTO: Aparentemente sim. Coluna de opinião de Jane Martinson, editora do jornal The Guardian: "É curioso que o facto de uma desportista de 30 anos que quer manter o seu nome por razões profissionais desperte o interesse nacional. " Mas é a própria Martinson que acaba por explicar por que razão foi assim: um estudo de Claudia Goldin, uma professora de Económicas da Universidade de Harvard, feito no Reino Unido com mulheres casadas e elevados níveis de escolaridade, revelou que em 87 por cento dos casos elas optaram pelo nome do marido. Há 20 anos, a percentagem das que tinham feito o mesmo não ultrapassava os 80 por cento. Em suma, Zara foi contra a corrente. Em Portugal o cenário é muito diferente. Os números a que o PÚBLICO teve acesso mostram que a maioria das mulheres mantém o nome de solteira. E que há uma diminuição de ano para ano das que adoptam o nome do marido. Olhe-se para os dados fornecidos pelo Ministério da Justiça: 62 por cento das mulheres que já se casaram este ano mantiveram o nome de solteira. No ano passado aconteceu com 61 por cento; no ano anterior com 58 por cento (ver infografia). Na verdade, há anos que a maioria não muda de nome depois do casamento. As motivações serão as mais diversas. Uma questão de identidadeA vice-presidente da Assembleia da República, Teresa Caeiro, por exemplo, manteve o nome de solteira, quando em Junho se casou com o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares. "Não foi uma opção ideológica, nada disso. Teria muito honra em adoptar o nome do meu marido. Mas simplesmente já tenho um nome muito longo", explicou ao PÚBLICO. "Não fazia ideia de que a maioria das mulheres não ficava com o nome do marido", continua. "Se é por uma questão de afirmação de independência, de igualdade. . . bem. . . eu sou uma grande defensora da igualdade entre homens e mulheres, mas acho que há coisas muito mais importantes. É mais importante que partilhem as tarefas domésticas. É mais importante que não seja sempre ela a ter que abrandar o ritmo da carreira profissional, como ainda acontece. "Em Inglaterra, o gesto de Zara foi lido por alguns como mais um acto de "menina rebelde" (qualquer coisa como: primeiro pôs um piercing na língua, agora não quer o nome do marido, Mike Tindall, 32 anos, jogador de râguebi). Já outros viram na decisão uma atitude feminista. "Esta é uma mensagem de Zara sobre a identidade, sobre a individualidade, sobre a igualdade no casamento. O que ela está a dizer é que, ao casar-se, não abdica de ser a pessoa que é", lê-se no Independent. Maria das Dores Guerreiro, investigadora na área da sociologia da família e do género, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do Instituto Universitário de Lisboa, diz que o que é estranho em Portugal é que durante tantos anos as mulheres adoptassem o nome dos maridos sem que o contrário acontecesse. "Se não há uma reciprocidade, não faz sentido. "E continua: adoptar o nome do marido e ele não adoptar o nome da mulher é, de alguma forma, um resquício de um tempo marcado pelo "inigualitarismo, quando o homem era o chefe de família e a mulher precisava da autorização dele para viajar ou trabalhar". Sinal de unidadeMas nem sempre em Portugal adoptar o nome dos maridos terá sido assim tão frequente. O historiador Nuno Gonçalves Monteiro lembra, num artigo publicado em 2008 na revista Etnográfica, um escrito inglês, datado de 1701, onde se descrevia a situação em Portugal: "Quando [se] casa, a mulher não toma o nome do marido, antes neste particular existe uma grande liberdade para que as pessoas tomem os nomes que lhes agradarem e, por vezes, dois irmãos do mesmo pai e mãe têm apelidos diferentes. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulher homem igualdade género estudo mulheres casamento feminista