A revolta já chegou à classe média chinesa
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DATA: 2011-08-16
SUMÁRIO: Há instabilidade social e há uma "crise de legitimidade". Já houve regimes a sobreviverem a mais, mas em Pequim há razões para o nervosismo.
TEXTO: Há incidentes que se repetem. Localizados e breves, começam e logo terminam, dez ou cem detidos depois, alguns carros da polícia incendiados entretanto. São pequenas explosões. Em 2009 houve 90 mil protestos na China. Mas há incidentes mais únicos, com consequências difíceis de antecipar. Há protestos que são mais do que isso, como o que no domingo juntou dezenas de milhares em Dalian e levou o Governo a ordenar o encerramento imediato de uma fábrica de produtos químicos cujos riscos a população temia. Ainda na sexta-feira houve notícia de um protesto violento, com milhares de pessoas a saírem em revolta contra os polícias municipais que feriram uma mulher que estacionou mal a sua bicicleta. Os abusos das autoridades são um dos gatilhos mais frequentes dos protestos. Questões ambientais ou de riscos para a saúde estão por trás de outros. A subida dos preços dos alimentos e da habitação também tem contribuído. A regra é que estes protestos acabam sem motivarem decisões por parte das autoridades, como o encerramento da petroquímica de Dalian. Também há acidentes de comboio que são só acidentes de comboio. Mas como escreveu David Pilling no Financial Times, o acidente no comboio de alta velocidade da China em Julho "não foi um desses". A colisão entre dois comboios em Wenzhou, no Leste do país, fez 40 mortos e o regime tentou controlar a cobertura jornalística. A tentativa fez ricochete e durante alguns dias a censura foi impossível. Muito por causa dos serviços de microblogues (idênticos ao Twitter), cada vez mais populares, mas não só. Este não foi um acidente qualquer e por causa dele o Diário do Povo escreveu que os chineses querem um crescimento económico que não esteja "coberto de sangue". "Será que as estradas nas nossas cidades podem não se desmoronar de repente? Será que não podemos viajar em comboios seguros? Queremos dizer: "China, por favor abranda. Não vás tão depressa e não deixes as almas das pessoas para trás"", foi o desabafo em directo de Qiu Qiming, pivot da televisão estatal. Os passageiros do TGVWenzhou foi diferente por várias razões. As escolas que desabaram e enterraram crianças no terramoto de Sichuan, em 2008, afectaram famílias pobres e rurais. Mas os passageiros das linhas de comboios de alta velocidade são membros da nova classe média. A que beneficiou do extraordinário crescimento económico, a que tem mais recursos para contornar a censura dos media oficiais e usa redes sociais como o Weibo, um dos serviços idênticos ao Twitter disponíveis no país. E a linha de comboios de alta velocidade é uma tecnologia que o regime promoveu como símbolo da China moderna que se quer grande no mundo. "Realmente, não entendo o que o Governo pensa que pode esconder", foi uma mensagem lida pela Reuters no Weibo, entre um aceso debate, com muitos chineses a acusarem o Governo de sacrificar a sua segurança em nome do desenvolvimento frenético. O debate no Weibo também levou os media tradicionais a desafiarem a dura censura habitual - pelo menos até chegar a ordem para reduzir a cobertura do acontecimento. O semanário privado Economic Observer publicou na primeira página um editorial em forma de carta a uma menina de dois anos encontrada com vida nos destroços quando o Governo assegurava que já não havia sobreviventes. "Como vocês mentem as pessoas recusaram desistir de saber a verdade. "O partido vai nuNa sexta-feira, o Governo anunciou a suspensão de todos os projectos de construção nos caminhos-de-ferro. E a China CNR Corp, empresa estatal, tirou de circulação 54 TGV "para testes sistemáticos por causa de determinados problemas técnicos". O acidente de Wenzhou poderia "perfeitamente ter sido evitado", afirmou Luo Lin, o chefe da equipa que conduz o inquérito à colisão, citado pelo Diário do Povo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher alimentos