O mar turístico esconde guerras que nem os mergulhadores conseguem decifrar
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DATA: 2011-08-20
SUMÁRIO: Arqueólogos e turistas continuam em busca do U-boat, o submarino alemão que espalhou terror na costa algarvia. É o tesouro mais procurado, mas pode estar muito fundo.
TEXTO: Barcos, barcaças, navios comerciais e de guerra, um submarino, aviões, há de tudo um pouco no leito do mar algarvio, de Sagres a Tavira. Uns repousam estranhamente bem perto da costa, a pouca profundidade, outros ainda não se revelaram ou estão inacessíveis. São tesouros que a arqueologia subaquática ainda não conseguiu decifrar. Andam todos atrás deles. Também o PÚBLICO acompanhou mergulhos para ver canhões, despojos de guerra entre ingleses e franceses, e restos de um bombardeiro norte-americano da II Grande Guerra. Pouco passa das 8h30 quando deixamos para trás o porto de pesca de Quarteira no Cavalo Marinho I da OpenWaters, uma das 12 escolas de mergulho existentes no Algarve. Ainda no porto, antes daquela hora, pescadores e clientes discutiam o preço do peixe, disposto em caixas no chão, e alguns safios, gordos, que acabam de chegar quase são devolvidos ao seu elemento quando o carrinho de mão em que são transportados, vira com estrondo. "Só conversam, ninguém ajuda!", grita a peixeira, mulher de pescador. Um espectáculo que escapa aos turistas. A gasolina e o gasóleo correm de jorro pela mangueira às centenas de euros por minuto. São grandes embarcações turísticas que acostam ao porto. A faina turística vai começar, seja em passeio, seja sacudida pela velocidade e troar dos power-boats. No regresso do mergulho silencioso, uma jovem que pratica para-gliding haveria de nos dizer adeus, 30 metros acima das nossas cabeças. Vinte metros abaixo do nível do mar, sensivelmente, ao largo da ilha de Faro e a uma milha náutica da costa (1852 metros), é esta a "coordenada" do nosso primeiro mergulho. O briefing do master diver Luís é sintético: "Vamos ver o Faro A [assim identificado por se desconhecer a sua verdadeira identidade], aparentemente afundado em 1693. " A descoberta foi feita por dois mergulhadores algarvios (José Augusto Silva e Miguel Galvão), em 1996. Há mergulhadores que se interessam mais pela história do naufrágio do que pelos objectos em si. E o naufrágio é do que todos gostam, o que todos querem. Por isso, Luís prossegue: "Fazia parte de uma frota inglesa que seguia para Esmirna, na Turquia, quando foi interceptada por frota de guerra francesa. Eram 400 navios e aqui foram afundados 42. Este é um deles, mas não sabemos dos outros. "Muitos canhões"Comecei a mergulhar há dois anos e aqui faço-o em férias. Sempre senti uma vontade de conhecer o mundo subaquático. Também, porque, quando era pequena, via as emissões do Jean-Jacques Cousteau. Este naufrágio é a vida reconstituída. Vi lagostas, safios, aqueles canhões todos. Mergulho no Sul da França, que é quase o mesmo, mas a água é muito mais fria", conta Alexandra Migaud, regressada da débil profundeza, uma francesa nascida em Lisboa, de 41 anos, que trabalha em Paris numa companhia de seguros de saúde. Felizardo Pinto, o instrutor, acabado de regressar à embarcação, olha para as bolhas de ar que emergem. Ele quer saber onde andam todos os outros aquanautas. "Onde anda o alemão?", pergunta, não preocupado, mas já a preparar sermão. Volger faz o sinal de OK (está tudo bem, na sinalética de mergulho). Tem 50 anos, grande parte do corpo tatuado. Não revela qual a sua ocupação, mas já arranha um português sofrível. Percebe tudo, porque parece ser bom observador. É mergulhador experiente. Transporta outra garrafa, de reserva, pequena, de três litros, para além da de 15 litros [só ar comprimido] que todos transportavam. "Já tive uma situação complicada, fiquei sozinho", justificou. "Então o seu parceiro não era o Rory [McDonald, escocês, de 36 anos, director de empresa de férias no Algarve]?", contestou Felizardo Pinto. "Pensei que era a menina [Brígida, arqueóloga de Tavira, de 28 anos]. Pronto, foi um engano", ripostou Volger.
REFERÊNCIAS: