Objectos para lembrar que nem todas as histórias acabaram mal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.69
DATA: 2011-09-07
SUMÁRIO: Lisa Lefler era uma das 1100 empregadas da Aon Risk Services, uma empresa que funcionava entre os andares 98 e 105 de um dos edifícios do World Trade Center, em Nova Iorque. Foi uma das primeiras a conseguir fugir quando o primeiro avião embateu nas torres a 11 de Setembro de 2001. Para trás ficou a sua mala que, depois do colapso dos dois edifícios, ficou enterrada nos escombros. Um dos trabalhadores recuperou-a, ligou para Lisa Lefler e devolveu-a. Dez anos depois, está exposta numa sala do Museu de História Americana, em Washington, como um testemunho de que algumas histórias do dia dos atentados acabaram bem.
TEXTO: A mala de Lisa Lefler é um dos 50 objectos que estarão em exposição até 11 de Setembro numa pequena ala do Smithsonian, recolhidos nos três locais dos atentados – o World Trade Center, em Nova Iorque, o Pentágono, na Virginia, e em Shanksville, na Pensilvânia. “Queriamos objectos que falassem dos ataques, mas também que falassem dos primeiros que chegaram aos locais e dos esforços de recuperação. Houve muita tristeza e destruição a 11 de Setembro, mas mesmo assim houve histórias de sobrevivência. Nem tudo foi triste”, diz ao PÚBLICO Cedric Yeh, curador da exposição e um dos responsáveis pelas colecções militares do Smithsonian. Apesar de não ter estado nas equipas iniciais que recolheram os objectos, Yeh foi quem teve a responsabilidade final de escolher estes 50 artefactos que são mais que artefactos. São histórias exibidas sem a habitual protecção de vidro ou plástico que cobre um objecto de museu. Cada pessoa, observa o curador, terá a sua própria experiência e fará a sua própria interpretação, apenas com o mínimo indispensável de informação, de objectos como a porta de um carro de bombeiros de Brooklyn que acabaria por ficar soterrado pelos escombros, ou como o telemóvel que o “mayor” de Nova Iorque na altura, Rudi Giuliani, usou naquele dia. Há testemunhos de tempo, como o relógio que estava pendurado numa parede do Pentágono e que caiu quando o avião atingiu o edifício, ficando parado nas 9h37. Há testemunhos de vidas interrompidas, como o “beeper” de Goumatie Thackurdeen, que morreu na torre sul do World Trade Center. Há testemunhos de heroísmo, como a coleira de Vito, o cão de Isaac Ho’opi’L, um polícia que estava de serviço no Pentágono e que salvou várias pessoas apesar das chamas intensas. Há testemunhos de normalidade destruída, como um botão para pedir uma bebida, retirado dos destroços do United 93 que caiu em Shanksville. “Nenhum de nós estava preparado para o 11 de Setembro”, observa Cedric Yeh, que colocou caixas com lenços de papel em cada uma das mesas com os objectos, a antecipar potenciais reacções emocionais dos visitantes. “Queríamos estar preparados. Não sabemos como as pessoas vão reagir dez anos depois. Queremos que se lembrem e que reflictam. Para muita gente foi uma parte muito importante das suas vidas”, acrescenta. Após a sala dos objectos, os visitantes são convidados a partilhar as suas histórias do 11 de Setembro. Nem todas serão de sobrevivência ou heroísmo, quase todas são testemunhos de uma normalidade interrompida, a lembrar também que os ataques custaram mais que as 2909 pessoas contabilizadas como baixas nos três atentados. E que provocaram uma memória colectiva em centenas de milhões, todos se lembram onde estavam nesse dia: “Eu estava em casa no Oregon”; “Eu não estava, nasci dois anos depois, a 10 de Setembro”; “A minha festa de anos era para ser nesse dia e foi cancelada”; “O World Trade Center era a vista da minha casa. ”
REFERÊNCIAS: