Polémica entre encenador e Teatro do Bolhão ameaça saltar do Facebook para os tribunais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-16
SUMÁRIO: A peça “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant”, de Rainer Werner Fassbinder, estreou-se ontem no Teatro D. Maria II no meio de uma violenta polémica, com o encenador Hugo Amaro a afirmar que tenciona processar o Teatro do Bolhão, que co-produz o espectáculo, e a companhia portuense a devolver-lhe a ameaça, garantindo que irá, também ela “accionar formas legais”, visando uma “definitiva clarificação” das acusações lançadas pelo encenador.
TEXTO: A história começa há um ano e meio, quando Hugo Amaro e a actriz Custódia Gallego decidem encenar a peça de Fassbinder, com o primeiro como encenador e a segunda como protagonista, interpretando a personagem de Petra. A polémica, essa, só rebenta em cima da estreia da peça, quando Amaro coloca na sua página do Facebook o relato detalhado do que afirma ter acontecido desde que lançou o projecto até ter sido afastado, em Março deste ano, e substituído, no papel de encenador, pelo cineasta António Ferreira. O seu texto atinge o director artístico do D. Maria II, Diogo Infante, e o Teatro do Bolhão, cujos comportamentos, segundo o encenador, revelam “falta de ética artística, profissional e institucional”. Ambos já reagiram: Diogo Infante através de um comunicado enviado à imprensa, o Teatro do Bolhão com a publicação de uma resposta na sua própria página do Facebook. Amaro replicou, entretanto, com mais um texto, igualmente publicado naquela rede social. Apesar de os relatos das duas partes serem previsivelmente discordantes, esse desacordo parece prender-se mais com o que motivou determinados factos e com o modo como estes devem ser interpretados do que com os factos propriamente ditos, ainda que também aqui surjam algumas divergências. Dado que o enredo não é demasiado cristalino, o leitor que esteja inscrito no Facebook não perderá nada em consultar as páginas de Hugo Amaro e do Teatro do Bolhão, tirando as suas próprias conclusões a partir dos documentos originais, que, a cumprirem-se as ameaças mútuas, poderão bem vir a tornar-se “peças processuais” em sentido literal. A cronologia desta tumultuosa peça em numerosos actos arranca ainda antes da entrada em cena do Teatro do Bolhão. Em Março de 2010, Amaro e Custódia Gallego decidem avançar com um projecto de encenação do texto de Fassbinder, que previam levar ao palco em 2011, quando se cumpririam 40 anos sobre a estreia original da peça, que teve lugar em Junho de 1971 no Landestheater da cidade alemã de Darmstadt. No ano seguinte, como se sabe, Fassbinder irá transpor o seu texto para o cinema, oferendo o papel de Petra a Margit Carstensen e convidando Hanna Schygulla para o de Karin, uma das outras cinco personagens desta peça, que só inclui mulheres. Confiando no relato de Amaro, fica desde logo estabelecido que a responsabilidade pelo projecto, incluindo a escolha do restante elenco e a procura de potenciais produtores, será partilhada com Custódia Gallego. Pelo seu lado, Amaro convida as actrizes Isabel Ruth e Rita Brütt. Quando o encenador é afastado do projecto, precisamente um ano mais tarde, a primeira aceita manter-se no elenco, ao passo que a segunda, embora convidada a permanecer pelo Teatro do Bolhão, decide abandoná-lo. FlashbackNo seu texto inicial, que assume ter divulgado deliberadamente na véspera da estreia da peça, Amaro diz ter contactado Custódia Gallego “para averiguar a disponibilidade e interesse dela em integrar, como protagonista, um projecto” que ele se “propunha desenvolver como encenador e director artístico”. Mas num mail enviado em Setembro de 2010 ao Teatro do Bolhão, e de que a companhia portuense cita um excerto na sua resposta às acusações do encenador, Amaro adianta outros pormenores, explicando que o convite a Custódia Gallego fora antecedido de um encontro casual com a actriz – que já conhecia de projectos em que ambos haviam participado –, durante o qual esta lhe revelara “que tinha grande vontade de um dia vir a fazer a peça do Fassbinder e interpretar, obviamente, a Petra”. Foi neste encontro, que teve lugar em 2004 numa cerimónia dos Globos de Ouro, que Amaro, segundo ele próprio diz, ficou a saber que ambos partilhavam a paixão pela peça de Fassbinder, paixão essa que, no caso do encenador, dataria dos seus 17 anos, quando viu, na televisão, a versão para cinema.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social mulheres