FMI: Economia mundial vai crescer menos do que o previsto
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.13
DATA: 2011-09-21
SUMÁRIO: Estados Unidos e zona euro pesam sobre o crescimento mundial. FMI pede a adopção de políticas fortes para reduzir riscos
TEXTO: O abrandamento da recuperação nas principais economias mundiais e a crescente incerteza nos mercados financeiros levaram o FMI a rever em baixa as suas projecções para a economia mundial. No seu World Economic Outlook (Perspectivas Económicas Mundiais) de Setembro, hoje divulgado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia mundial cresça 4% em 2011 e outro tanto em 2012, abaixo das previsões feitas em Junho. Anteriormente, a instituição previa que o PIB mundial aumentasse 4, 3% este ano e 4, 5% no próximo. A contribuir para esta desaceleração das perspectivas globais está o abrandamento nas economias avançadas, que vão crescer 1, 6% este ano e 1, 9% em 2012, ou seja, menos 0, 6 e 0, 7 pontos percentuais abaixo do previsto, respectivamente. Nas economias emergentes e em vias de desenvolvimento, também houve uma revisão em baixa das previsões – de 0, 2 pontos em 2011 e de 0, 3 em 2012 – empurrando o PIB destes países para um crescimento de 6, 4% este ano e de 6, 1% no próximo. Os Estados Unidos são a economia que apresenta uma maior revisão em baixa das previsões de Junho do FMI. A maior economia mundial vai crescer 1, 5% este ano e 1, 8% no próximo, enquanto, anteriormente, a instituição apontava para um crescimento de 2, 5% em 2011 e de 2, 7% em 2012. A zona euro também viu o seu crescimento ser revisto em baixa, em 0, 4 pontos percentuais, para 1, 6% este ano. Em 2012, o PIB dos 17 países da moeda única deverá aumentar 1, 1%, menos 0, 6 pontos do que o previsto. Entre as principais economias europeias, a Alemanha, a França e a Itália viram as suas previsões revistas em baixa, entre os 0, 4 pontos e os 0, 5 pontos. Portugal vai, à semelhança do que já estava previsto no programa de ajuda externa, crescer 2, 2% este ano e 1, 8% no próximo – o segundo pior crescimento da zona euro, apenas superado pela Grécia. O FMI avisa que, no caso da Europa, há riscos de que o abrandamento se revele maior do que o previsto e que será a resposta das autoridades à crise da dívida da zona euro que irá definir as perspectivas de curto prazo para a região. Desequilíbrios mundiais vão aumentarNa introdução ao World Economic Outlook, o economista-chefe do fundo, Olivier Blanchard, explica que, em relação ao último relatório da instituição, divulgado em Abril, a recuperação da economia tornou-se muito mais incerta, devido a dois “desenvolvimentos adversos”: uma recuperação muito mais lenta nas economias desenvolvidas e um grande aumento da incerteza orçamental e financeira, que se intensificou a partir de Agosto. O FMI alerta que estes dois desenvolvimentos são preocupantes e que a sua combinação e interacção ainda o são mais, apelando aos líderes mundiais para que adoptem “políticas fortes, necessárias para melhorar as perspectivas e reduzir os riscos”. O economista explica que, na sequência da crise financeira e económica de 2008-2009, eram necessários dois tipos de reequilíbrios que não estão a verificar-se: um “reequilíbrio interno” e um “reequilíbrio externo”. No primeiro caso, trata-se de uma transição dos estímulos à economia para o consumo privado, que não está a descolar como se previa. De acordo com Olivier Blanchard, “o crescente aperto dos bancos na concessão de crédito, o legado da crise imobiliária e o elevado endividamento de muitas famílias estão a colocar travões mais fortes na recuperação do que tínhamos antecipado”. A agravar o cenário, as economias avançadas com défices comerciais, nomeadamente os Estados Unidos, precisam de compensar a fraca procura interna com um aumento da procura externa. Contudo, os mercados emergentes, que têm elevados excedentes comerciais e poderiam ser o motor dessa procura, não o estão a ser. “Olhando para a frente, a previsão é para um aumento e não para uma diminuição dos desequilíbrios”, alerta o economista-chefe do FMI, salientando que tudo isto se desenrola num contexto de maior incerteza fiscal e financeira, em que os mercados se tornaram mais cépticos sobre a capacidade de vários países em estabilizar a dívida pública. Gigantes europeus devem atrasar consolidaçãoPara o FMI, a resposta dos países a estes riscos de abrandamento tem de rápida, já que “os riscos são muito reais”. Em termos de política orçamental, Olivier Blanchard salienta que a consolidação das finanças públicas “não pode ser demasiado rápida ou matará o crescimento, mas também não pode ser demasiado lenta ou matará a credibilidade”. Além disso, os países devem ir além das políticas orçamentais, implementando medidas para fomentem a procura interna. O FMI lança, inclusive, no seu relatório, um recado às grandes economias europeias, como a Alemanha e o Reino Unido, dizendo que “os países que se financiam a taxas de juro historicamente baixas devem ponderar atrasar parte do seu plano de ajustamento orçamental”, de modo a poderem funcionar como motores do crescimento da região. Além disso, é preciso um reequilíbrio externo, que assegure que as economias avançadas em risco de abrandamento, como os EUA, consigam compensar a quebra da procura doméstica com um aumento das exportações. Várias economias asiáticas, nomeadamente a China, já indicaram ter planos de fomentar a procura interna. O FMI apela a que isso seja implementado o mais rapidamente possível, dizendo que “só com um reequilíbrio mundial podemos esperar forte crescimento nas economias avançadas e, consequentemente, no resto do mundo”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA FMI