Ao fim de dez anos de guerra afegãos já não duvidam do regresso dos taliban
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-07
SUMÁRIO: Dez anos depois do início da guerra, Wakil Ahmad Muttawakil, ex-braço direito do líder dos taliban, mullah Omar, acredita que só há uma forma de pôr fim a uma década de combates no Afeganistão: devolver o poder aos islamistas radicais.
TEXTO: "A única maneira de pôr fim à luta contra os taliban é trazê-los para o poder e mandar os estrangeiros embora", insiste Muttawakil numa entrevista à Reuters na sua casa de Cabul. Além disso, acrescenta, a insegurança e a imoralidade floresceram desde que as tropas lideradas pelos Estados Unidos derrubaram o regime dos "estudantes de teologia" em Cabul. O seu regresso acabaria com muitos desses problemas. Mas há outros afegãos que não estão nada entusiasmados com o reaparecimento no governo de um grupo que recordam como sendo cruel e opressivo. Mas com a retirada das tropas estrangeiras, numa altura em que a guerra está longe de ter terminado, este é o futuro para que muitos se preparam. "Quando os EUA partirem, numa semana os taliban regressam. Acredito 100% que eles vão recuperar o poder, quer o povo afegão queira, quer não", diz Khalid Ahmad, um vendedor de roupa feminina. "Quando eles voltarem, vão reintroduzir as leis islâmicas, vão fazer como faziam antes. Se isso acontecer, eu não vou partir, mas duvido que consiga manter um negócio como este aberto. "Durante o seu reinado entre 1996 e 2001, os "estudantes de teologia" impuseram políticas fortemente opressivas, especialmente em relação às mulheres, que foram banidas de quase todo o tipo de empregos e estudos, e sujeitas a todo o tipo de proibições de movimentos e de participação na sociedade. Executavam publicamente pessoas acusadas de adultério, amputavam aqueles que fossem acusados de roubo e, sendo maioritariamente da etnia pashtun, discriminaram todos os outros grupos étnicos. A sua interpretação austera do islão também alienou os afegãos que não eram directamente afectados pelas suas leis rigorosas. Proibiram a televisão, alguns desportos e quase toda a música. Prendiam homens sem barbas e espancavam aqueles que faltavam às orações. A meio caminhoOs Estados Unidos e outras potências ocidentais e regionais insistem que o seu compromisso no Afeganistão vai durar muito para lá de 31 de Dezembro de 2014, a data acordada entre a NATO e o presidente Hamid Karzai para o final da retirada das tropas estrangeiras. Responsáveis norte-americanos, incluindo o embaixador em Cabul, dizem que meses de tentativas para avançar numa negociação com os taliban sobre uma solução política para pôr fim a uma década de conflito só vão traduzir-se em alguma coisa palpável, se a pressão militar sobre o grupo insurrecto continuar. "É necessário enfraquecer ainda mais os taliban até eles chegarem ao ponto em que se sentem à mesa preparados para aceitar as condições que nós definimos em conjunto com as autoridades afegãs", considerou o embaixador Ryan Crocker, numa entrevista recente à Reuters. Só que, para a maioria dos afegãos, estes esforços para negociar com os taliban são sinal de que o dinheiro e convicção necessária para vencer a guerra estão a faltar. A confiança nas forças de segurança afegãs, minadas pela corrupção, abuso de drogas e iliteracia, não é muita. Por isso há um sentimento crescente de que os taliban vão voltar, seja pela força das armas, seja através de um acordo que será mais vantajoso para o grupo do que para as potências ocidentais em retirada. "Tenho medo. Se as forças estrangeiras nos deixarem a meio caminho, todas as vitórias conquistadas serão dramaticamente perdidas", queixa-se Abbas, um comerciante de 24 anos. Mas para muitos, os taliban são uma alternativa melhor do que a possibilidade de regresso a uma guerra civil e do que a presença de tropas estrangeiras no país. Dez anos depois, as estimativas apontam para a morte de mais de 11 mil civis durante a guerra. E para milhares de feridos. Embora os insurrectos sejam responsáveis por cerca de 80 por cento das mortes de civis neste último ano, as forças estrangeiras são vistas como a principal causa de tanto sofrimento.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA NATO