Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, talvez emigrasse
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-31
SUMÁRIO: Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, em que país viveria quando atingisse a maioridade? “O mais provável era que tivesse emigrado ou que estivesses prestes a fazê-lo”, responde João Peixoto, demógrafo e professor no ISEG. “Não viveria cá ou pelo menos estaria a preparar a saída”, concorda Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa.
TEXTO: E que país teria deixado para trás? “Periférico, envelhecido, com o interior rarefeito e concentrado nalgumas sedes de concelho, com menos imigrantes, menos inovador e a lutar por manter-se acima da linha dos 10 milhões em termos de população”, arrisca Jorge Malheiros. “Com um quadro de envelhecimento com consequências mais gravosas do que o simples envelhecimento paisagístico da população, nomeadamente com mais dificuldades de acesso às pensões de reforma, aos serviços de saúde, às prestações sociais”, sublinha João Peixoto. “Não é, aliás, de excluir”, reforça, que “por causa das dificuldades no acesso aos serviços de saúde a mortalidade suba mais do que se espera”. Se fosse português, o mais provável era que o bebé sete mil milhões não tivesse irmãos. Por estes dias, Portugal apresenta uma taxa de fecundidade de 1, 32 filhos por mulher em idade fértil (para garantir a substituição das gerações seriam precisos 2, 1 filhos por mulher). Isto faz com que estejamos desde 2007 com saldos naturais negativos, o que equivale a dizer que há mais mortes do que nascimentos. E, com as restrições que a crise coloca à natalidade, não é de prever que as mulheres portuguesas se ponham a ter mais filhos. Ainda assim, João Peixoto não acredita que a taxa de fecundidade desça muito abaixo dos 1, 1 filhos por mulher, mesmo que esta crise dure 20 anos. “Em países com crise muito mais pronunciada do que a portuguesa, como são os países de Leste que pertenceram à União Soviética e ainda não conseguiram uma transição equilibrada para uma economia de mercado, os valores nunca desceram abaixo dos 1, 1 filhos por mulher. Portanto, descermos muito abaixo dos 1, 3 não é muito verosímil, pela simples razão de que as pessoas vão continuar a debater-se com a vontade de ter descendência”. Mais envelhecido o país, portanto, mas nem por isso a ameaçar extinção. Quanto aos imigrantes – que são quem tem refrescado as populações, não só portuguesa mas também europeia –, “até pode ser que daqui a 20 anos estejam de novo a entrar em Portugal”, admite João Peixoto, assim consiga o país “criar emprego e prosperidade e económica, variáveis nas quais quem manda são os políticos”. Se continuarmos a privilegiar o olhar para o copo meio cheio, Malheiros admite que, finda esta década “que será marcadamente depressiva”, a próxima possa ser já de viragem. “Poderemos estar a experienciar já aí uma transição do ponto de vista político para fora do sistema partidário que temos agora, para uma nova forma de governação com maior participação dos cidadãos e maior consciência para a necessidade de intervir por via dos Orçamentos participativos e da chamada às decisões sobre os tipos de investimento público”, sugere, esperançado na possibilidade de regresso a “determinados elementos da social-democracia dos anos 1960, mas em contexto global”. Mas, afinal, que futuro para o país nos mostram as estimativas oficiais?O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que em 2060 residam no território nacional três idosos por cada jovem. No cenário central – nem optimista nem pessimista –, a população estará fixada nos 10, 4 milhões em 2060. O peso dos idosos com 65 ou mais anos de idade duplicará, passando estes a representar 32, 3 por cento da população total. No cenário sem migrações, a população estaria reduzida a 8, 5 milhões no mesmo período de 50 anos. João Peixoto olha hoje para estas projecções e acha que estas serão brevemente revistas para “um cenário mais agravado”. Desde logo porque “2012 terá provavelmente o número mais baixo de sempre em termos de fecundidade”. E não é plausível que a seguir venha “um baby boom”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher social mulheres extinção