Reportagem: do lado de lá da porta da Urgência
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2011-11-07
SUMÁRIO: Há uma médica ucraniana que o “destino mandou para Portugal”, um enfermeiro que se habitou a “pensar rápido e a agir ainda mais rápido”, uma assistente social sempre à procura de soluções para os problemas mais diversos, um auxiliar licenciado em jornalismo, um vigilante que foi escriturário e futebolista. Eles estão para lá das portas que se fecham assim que mais um doente entra na urgência do Hospital de Santa Maria.
TEXTO: Uma ambulância estaciona à porta do serviço de urgência. Estão sempre a chegar. Esta vem de Peniche. São quase 20h00. Fernando Sousa, 35 anos, coordenador da equipa de 18 enfermeiros (dez mulheres e oito homens), que se encontra no segundo turno do dia, já estava à espera deste doente. Início de acidente vascular cerebral, 70 anos, “via verde AVC”. Quer isto dizer que vai beneficiar de uma intervenção urgente para tentar libertar o trombo e desentupir a artéria. Se se conseguir, pode ser que a situação se torne reversível. O homem chega consciente mas confuso, o lado esquerdo do corpo paralisado. É preciso fazer análises e uma TAC (Tomografia Axial Computorizada) com urgência para confirmar que se trata de um AVC isquémico, antes de começar o tratamento designado de trombólise usado para dissolver o coágulo, que deve ser realizado no espaço de seis horas desde que os sintomas se instalaram. A médica neurologista Ruth Geraldes é chamada de urgência e observa o doente. “A que horas é que isto começou? Levante a perna”, pede. “Vamos embora depressa”, diz ao enfermeiro que empurra a maca para um elevador até gabinete onde o doente vai fazer a TAC. No corredor há uma mulher a chorar silenciosamente e outra que se dirige ao enfermeiro a protestar: “Afinal onde é que eu vou buscar as roupas do meu marido? Há meia hora que ando aqui e me mandam de um sítio para outro… Isto realmente…” “Pergunte ali àquele senhor”, responde o enfermeiro, apontando para um auxiliar, enquanto continua a empurrar a maca. Agora ele não pode parar. Está numa corrida contra o tempo. Os enfermeiros Fernando Sousa, enfermeiro há 13 anos, tem um turno de oito horas pela frente. Passa pela sala de aerossóis para onde são encaminhados os doentes com dificuldades respiratórias. Passa pela pequena cirurgia, pela sala de tratamentos, pelo Serviço de Observação (SO). E vai atendendo o telemóvel que toca permanentemente a pedir instruções, a passar informações. Como coordenador da equipa de enfermeiros, compete-lhe fazer a gestão dos recursos humanos e do material necessário para as necessidades que vão surgindo. Chega nova ambulância do INEM. Traz uma mulher idosa. Vem com dificuldades respiratórias, uma máscara de oxigénio. Atrás, vem outra mulher, feições semelhantes, ansiosa. É a filha que a vem acompanhar. O médico esclarece-a sobre o seu estado. Uma enfermeira explica-lhe que a mãe vai ficar internada no SO. Lá fora, há doentes à espera de ser atendidos há quase duas horas. O Serviço de Urgência “é muito desgastante” mas é o que Fernando Sousa gosta de fazer . “Nenhum dia é igual a outro, tem de se ser rápido. Pensar rápido, agir rápido, está a ver? E há o imprevisto”. “Não há dias nem horas aqui, de repente cai o Carmo e a Trindade”, diz Carlos Neto, o enfermeiro-chefe da Urgência de Santa Maria onde trabalha há 26 anos. “É preciso gostar para se trabalhar aqui”. Os enfermeiros circulam pelos corredores, transferem os doentes das macas, dão-lhes medicamentos, monitorizam-nos, fazem pensos, injectam, algaliam. “Têm de saber olhar para o doente, avaliá-lo… Este doente não está bem”. É um complemento do trabalho do médico. Por vezes, muito stressante, quando há situações graves e muitos doentes para atender. Às vezes, muito gratificante, às vezes muito ingrato, diz Carlos Neto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha humanos mulher homem mulheres corpo