"Super Mario" Monti, o negativo absoluto de Berlusconi
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.077
DATA: 2011-11-14
SUMÁRIO: Se, no dia da criação, Deus tivesse querido conceber o exacto oposto de Silvio Berlusconi, o resultado seria... Mario Monti, o homem que é dado quase certamente como o próximo primeiro-ministro de Itália.
TEXTO: Apesar de nunca ter exercido qualquer cargo político-partidário, a perspectiva de um Governo chefiado por Monti foi suficiente para acalmar uma boa parte do nervosismo dos mercados financeiros, que esta semana provocaram a subida em flecha das taxas de juro da dívida pública, colocando o país à beira da crise de liquidez. Monti, que detesta a política partidária, recusou todos os convites para integrar o Governo italiano, incluindo, ironicamente, depois da primeira queda de Berlusconi, em 1995. É caso para dizer que à terceira foi de vez. A sua reputação num lugar público foi feita sobretudo durante os dez anos em que foi membro da Comissão Europeia - primeiro como responsável pelo mercado interno, depois como chefe da política de concorrência -, em que deixou uma impressão impecável de grande seriedade, verticalidade e sentido do interesse geral. Foi nestes cargos que o italiano ficou conhecido por "Super Mario", a alcunha que é agora atribuída ao seu compatriota acabado de chegar à presidência do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Monti detestava a alcunha, por se considerar o oposto da pequena personagem agitada dos jogos de computador, mais parecido, na realidade, com Silvio Berlusconi. Monti e Berlusconi são de tal forma o oposto um do outro que custa a acreditar que foiIl Cavaliere que nomeou Il Professore para Bruxelas durante a sua primeira chefia do Governo italiano, em 1994. De um lado, Berlusconi, de 75 anos, é o self made man que se tornou num dos homens mais ricos de Itália. Do outro, Monti, sete anos mais novo, é o grande intelectual que dedicou toda a vida ao estudo e ao ensino de Economia na universidade italiana de Bocconi e em Yale, com passagens pelo banco americano Goldman Sachs e pelos conselhos de administração de várias empresas, da Fiat à IBM. Berlusconi com o seu ar de playboy bronzeado todo o ano, é o campeão da política-espectáculo, frequentemente inconveniente, ligeiro, sem convicções conhecidas, atreito a gaf-fes e com "uma atitude escandalosa com as mulheres", como reconheceu esta semana o seu amigo e homólogo russo, Vladimir Putin. Monti é o grande intelectual, europeísta convicto, ponderado, reservado, formal, um pouco rígido mas de humor britânico, de quem não há memória de qualquer comportamento deslocado. "O principal traço de carácter de Monti é a integridade", explica um dos seus antigos colaboradores em Bruxelas. "É um homem de grandes princípios, que não tem medo de ninguém nem faz favores a ninguém". Monti é, igualmente, "um negociador temível", refere outro ex-colaborador. Primeiro, porque nunca mostra as emoções, o que desarma os interlocutores, por não conseguirem perceber o que pensa. Segundo, porque, quando está convencido de que tem a razão do seu lado, não cede um milímetro. Uma das grandes batalhas que fizeram a sua reputação teve a ver com o desmantelamento das vendas sem taxas nos aeroportos europeus (os chamados duty-free). Conscientes de que, no contexto do mercado sem fronteiras internas de 1993, não teria sentido manter nichos sem taxas nos aeroportos, os governos decidiram por unanimidade acabar com eles a 1 de Janeiro de 1999, com o nascimento da moeda única. Furiosos, os representantes dos duty-free montaram então uma das maiores operações de lobby de sempre para tentar anular a decisão, anunciando um desastre económico e social com o desaparecimento de milhares de empregos, a falência dos aeroportos e a subida em flecha dos bilhetes de avião. A pressão foi tal que vários governos acabaram por se impressionar, incluindo os líderes da França e da Alemanha, na altura Jacques Chirac e Gerard Schroeder, que "ordenaram" a Monti para abandonar o projecto. Convicto de estar perante um pequeno interesse de uma minoria contra o interesse maior do mercado interno europeu, o comissário não cedeu uma vírgula. As vendas sem taxas acabaram mesmo a 1 de Janeiro de 1999 e, como se viu, os cenários apocalípticos anunciados não foram mais do que uma arma de propaganda. "O mais poderoso"Além de "Super Mario", Monti era igualmente conhecido pelo "homem mais poderoso da Europa", um título que adquiriu durante os cinco anos em que tutelou a política de concorrência (e que partilhou com o seu antecessor no cargo, o belga Karel Van Miert) pela firmeza com que se opôs a alguns dos maiores negócios do mundo devido aos riscos que representavam para o mercado interno. A Microsoft e o chamado "cartel das vitaminas" aprenderam-no à sua custa com as multas de 497 e 790 milhões de euros, respectivamente, que tiveram de pagar pelos seus abusos de posição dominante no mercado. O caso mais emblemático de Monti enquanto "polícia da concorrência" foi, no entanto, o veto, em 2001, à fusão da General Electric (GE) com a Honeywell, duas empresas americanas especializadas, nomeadamente, em motores e electrónica de aviões. Jack Welch, presidente executivo da GE e considerado o "melhor CEO do mundo", estava convencido de que a aprovação do negócio de 47 mil milhões de dólares pela Comissão Europeia seriam favas contadas. O seu espanto foi imenso quando Bruxelas decretou que a junção das duas empresas criaria uma situação de posição dominante no mercado europeu e exigiu que a GE cedesse uma parte das suas actividades no segmento da aviação para garantir um mínimo de concorrência. Welch fez intervir o seu amigo e Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, enquanto o Congresso americano ameaçou com a adopção de medidas de retaliação comercial. Monti não se deixou impressionar: a decisão não é política mas jurídica e económica, insistiu. Perante a recusa da GE em acatar as exigências de Bruxelas, o comissário vetou o negócio, o primeiro envolvendo duas empresas americanas já aprovado pela autoridade da concorrência dos Estados Unidos. Nunca é tarde para aprender, concluiu Welch.
REFERÊNCIAS:
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