Liège: um drama que podia ter sido evitado?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-14
SUMÁRIO: Depois do massacre as atenções voltam-se agora para uma única pergunta: porquê? Os belgas precisam de respostas para o que aconteceu na terça-feira em Liège.
TEXTO: Eric Deffet, que assina o editorial de hoje do jornal belga Le Soir, escreve que a confirmação da ministra em como o ataque foi um acto “isolado e pessoal” era uma explicação “necessária”, mas que não será “suficiente” por muito tempo. “É indispensável deitar toda a luz necessária sobre a história de um homem que passou ao lado da lógica ou que enlouqueceu. (. . . ) Os próximos dias serão determinantes. O ano não pode acabar sem uma resposta a esta questão lancinante: porquê?”, pode ler-se no editorial do Le Soir que tem hoje como título de primeira página a frase “Massacre em Liège”. Do que se conhece até agora da história do atacante – Nordine Amrani, 33 anos, habitante de Liège originário de Marrocos – pode concluir-se que este jovem adulto tinha cadastro por posse de armas, cultivo de cannabis e associação criminosa. Mas nada indicava que o homem sofresse de problemas mentais, como confirmou a procuradora de Liège, Daniele Reynders. E para que um indivíduo leve a cabo uma matança deste tipo é necessário que sofra de um qualquer distúrbio ou desarranjo mental, afirmam os especialistas. Stéphane Bourgoin, um dos maiores peritos mundiais em assassinos em série, disse ao Le Soir que um ataque deste género põe a descoberto um “suicida extrovertido”. Alguém que não quer morrer sozinho e que se deixa inspirar por acontecimentos como o da Noruega (os atentados levados a cabo por Breivik) ou do liceu de Columbine, nos EUA. “Estes assassinos têm muitas vezes um rancor insaciável contra a sociedade. Eles consideram-se vítimas de uma autoridade injusta. Eles querem que nós nos lembremos deles no quadro alargado da História e por isso multiplicam as suas vítimas. Têm sempre como alvo lugares públicos, frequentados por um máximo de gente. A maioria é obcecada por armas. Em 90% dos casos eles não sobrevivem às suas expedições mortíferas. Suicidam-se ou são abatidos pela polícia. Geralmente, tentam justificar o seu gesto deixando mensagens escritas, muitas vezes na Internet”, explicou Stéphane Bourgoin ao mesmo jornal. A Bélgica - um país tantas vezes de costas voltadas por causa das clivagens existentes entre as duas grandes comunidades linguísticas - uniu-se ontem em torno deste ataque. A Norte (Flandres) e a Sul (Valónia), a Bélgica falou a uma só voz. O rei Alberto II e o primeiro-ministro recém-empossado Elio Di Rupo deslocaram-se à cidade para confortar as vítimas e lamentar o sucedido. Mas este país dividido também se uniu em torno de um sentimento pouco nobre: o racismo. Eric Deffet escreve igualmente no editorial de hoje que “as redes sociais transbordam já de alusões odiosas a propósito das origens do atacante”. Para além das razões que levaram este homem a pegar numa arma e em várias granadas, outra pergunta se coloca: poderia este drama ter sido evitado? A resposta deveria ser “sim”. Em Setembro de 2008 Nordine Amrani tinha sido condenado a 58 meses (quatro anos e oito meses) de prisão efectiva. Se esta pena tivesse sido cumprida até ao fim ele só teria saído da cadeia em 2013. Acontece, porém, que em Outubro de 2010 o homem saiu em liberdade condicional, ainda que tivesse de se apresentar regularmente às autoridades. Era isso mesmo que deveria ter feito ontem à tarde.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA