Candidatos republicanos à Casa Branca em campanha contra modelo europeu
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-11
SUMÁRIO: Mitt Romney não acredita no Estado social, Rick Santorum diz que Barack Obama vai transformar a América na Grécia e Ron Paul não aceita resgates para os países do euro.
TEXTO: Quando não estão a afiar facas uns contra os outros, os diferentes concorrentes na corrida pela nomeação republicana à Casa Branca gostam de fazer pontaria e atirar contra um inimigo comum, a Europa - que é a terra do socialismo, foi subvertida pelo Estado social, está em declínio moral e constitui uma séria ameaça à estabilidade da economia global. "Não acredito na Europa. Acredito na América", declarou solenemente o ex-governador do Massachusetts Mitt Romney, numa paragem de campanha do New Hampshire - o primeiro estado das primárias onde o escrutínio se fez ontem por voto secreto. Ultrapassados os caucus do Iowa, onde a campanha se faz no plano da ideologia política e em torno da "pureza" de princípios conservadores, os candidatos começaram a falar do que realmente preocupa o eleitorado: a economia. E a sua mensagem, sem excepção, grita que "o modelo europeu não funciona", nem do ponto de vista monetário, nem do ponto de vista fiscal, nem do ponto de vista social. "O presidente Obama quer transformar a América num Estado social ao estilo europeu, quer substituir a nossa sociedade fundada no mérito por uma sociedade baseada em subsídios, onde o papel do governo é tirar de uns para dar a outros", acusou Romney. "O que eu sei é que eles querem substituir a ambição pela inveja, e envenenar o espírito da América. Deixaríamos de ser uma nação temente a Deus", prosseguiu. O argumento é repetido por todos os seus rivais, praticamente sem distinção. O texano Rick Perry insiste que "o modelo de medicina subsidiada pelo Estado não resulta, é um falhanço miserável, tanto na Europa como no Massachusetts". O libertário Ron Paul condena a colaboração da Reserva Federal dos Estados Unidos com o Banco Central Europeu. "Agora, em vez de resgatar os bancos americanos, andamos a pagar para os excessos orçamentais dos governos europeus", ataca Paul, que não quer nem ouvir falar em socorrer a eurozona. Uma das frases típicas dos comícios do ultraconservador Rick Santorum diz: "Se quiserem saber como vai ser a América depois de Barack Obama, basta olharem para o que é a Grécia. " Ou Portugal, ou a Itália ou até mesmo a França. Os analistas políticos desvalorizam os ataques ao modelo europeu, notando que são para "consumo doméstico" e música apenas para os ouvidos dos conservadores: o confronto dos discursos dos candidatos com a realidade dos factos e números deitaria por terra as suas críticas - por exemplo, em termos de mobilidade económica, de desigualdade de rendimentos, de equidade fiscal. Mas a "eurofobia" dos candidatos republicanos não se explica apenas por razões económicas, tem também por detrás um misto de desconfiança e ressentimento contra os valores culturais e sociais do Velho Continente - o secularismo dos seus governos e instituições ou a tolerância dos seus cidadãos para com o casamento gay, por exemplo. No seu afã para se mostrarem sofisticadas, as elites americanas estão a adoptar o comportamento dos europeus, denuncia Newt Gingrich. "O resultado é que os princípios anti-religiosos estão a tornar-se dominantes no mundo académico, mediático e judicial dos Estados Unidos", lamenta. E a diabolização da Europa não serve apenas para arrasar as políticas do presidente Obama, serve também para - por contraposição - fomentar o patriotismo dos candidatos republicanos. A campanha de Mitt Romney, em particular, tem-se esforçado para apagar algumas "nódoas" do seu currículo, nomeadamente o facto de ser fluente em francês (Romney, que é mórmon, foi missionário em França entre 1966 e 68). O último candidato presidencial que veio do Massachusetts, cresceu em ambiente de privilégio, construiu uma fortuna e falava francês perdeu as eleições. Chamava-se John Kerry.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social consumo casamento gay