Para salvar as baleias, o melhor é dar-lhes um preço, dizem cientistas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2012-01-12
SUMÁRIO: Enquanto ambientalistas e baleeiros travam, neste momento, uma luta sem tréguas nos mares frios do Oceano Sul, dois cientistas norte-americanos sugerem uma alternativa para acabar com a caça à baleia: colocar-lhes um preço e pô-las à venda.
TEXTO: Um sistema de comércio de quotas de caça poderia reduzir as capturas praticamente a zero, segundo os investigadores Christopher Costello e Steven Gaines, da Escola Bren de Ciência e Gestão Ambiental, da Universidade da Califórnia. A ideia, descrita num comentário publicado na edição desta semana da revista Nature, parece a princípio simples. Todos os países representados na Comissão Baleeira Internacional (CBI) – sejam pró ou contra a caça – receberiam quotas de caça. Há três opções para a sua utilização: ou são utilizadas, ou são guardadas para o ano seguinte, ou são anuladas para sempre. “O número de baleias caçadas dependeria de quem possui as licenças”, afirmam os investigadores. Numa das situações extremas, as nações baleeiras comprariam todas as licenças e capturariam todas as baleias, até a um limite considerável sustentável. No outro extremo, os países não-baleeiros ou outras organizações investiriam na aquisição das quotas, para garantir que nenhuma baleia é abatida. “O preço que emergiria no mercado iria reflectir tanto a disponibilidade de um [país] baleeiro em pagar pelo abate de uma baleia, como a disponibilidade de um conservacionista em pagar para a salvar”, explica Christopher Costello, numa entrevista por email ao PÚBLICO. Segundo os investigadores, há boas razões a indicar que a segunda opção é a mais provável. A caça à baleia gera 31 milhões de dólares por ano (24 milhões de euros) de receitas, nas contas apresentadas no artigo. E os conservacionistas gastam 25 milhões de dólares anuais em campanhas e acções directas contra a caça à baleia. Só a organização Sea Shepherd - que todos os anos lança-se num jogo do gato e do rato com os navios baleeiros japoneses em pleno oceano – tem este ano em campo três embarcações, com 88 tripulantes, mais um veículo aéreo não-tripulado, para filmar e dar indicações precisas sobre a posição do “inimigo”. Ou seja, este dinheiro gasto pelos conservacionistas, mais o de países que se opõem à actividade baleeira, poderia ser aplicado na aquisição de quotas, facilmente compensando as receitas de quem caça baleias. “Esta é a essência da ideia. A nossa abordagem poderia, possivelmente, conduzir a caça a zero”, diz Christopher Costello ao PÚBLICO. Segundo os investigadores, uma baleia-anã – a mais caçada – gera 13 mil dólares (10 mil euros) em receitas. Já uma baleia-comum vale 85 mil dólares (66 mil euros). “Os preços das baleias estariam, portanto, ao alcance dos grupos conservacionistas ou mesmo de algumas pessoas individuais”, argumenta o artigo publicado na Nature. Se a ideia funcionasse, poderia ser o fim da divisão histórica que existe na Comissão Baleeira Internacional (CBI), onde dois grupos de países não se entendem, desde que foi adoptada uma moratória à caça comercial à baleia, em 1986. Apesar da moratória, cerca de 2000 baleias são abatidas anualmente, metade pelo Japão – para “fins científicos” – e um quarto pela Noruega, que apresentou uma objecção formal à proibição da caça comercial. Há anos que as reuniões da CBI são palco de uma batalha sem fim entre os países que pretendem retomar a caça comercial e os que nem querem ouvir falar disso, temendo um descontrolo com consequências dramáticas para os grandes cetáceos. Na lógica dos investigadores norte-americanos, um sistema de quotas transaccionáveis poderia deixar todos satisfeitos, acabando com o conflito. Mas não será assim tão fácil. “Esta proposta trabalha sobre pressupostos errados”, afirma o biólogo Jorge Palmeirim, que tem representado Portugal nas reuniões da CBI nos últimos anos. A primeira crítica vai para a ideia de que o problema das baleias está nas 2000 que são mortas todos os anos. Segundo Jorge Palmeirim, o declínio na população dos grandes cetáceos tem raízes na caça comercial até à moratória, com dezenas de milhares de animais abatidos por ano e cujos efeitos perduram até hoje.
REFERÊNCIAS: